Geopolítica e Lavagem Cerebral?
O que é lavagem Cerebral? Isso existe mesmo? Será que tem algo de ideologia militar? É uma expressão típica do capitalismo?
Quando eu era criança, tinha uma propaganda de chocolate que aínda hoje domina a minha mente.
Era assim: "Compre Baton, seu filho merece baton". No comercial, uma cigana com um chocolate chamado baton em formato de pêndulo repetia essa frase.
Será que sofri uma lavagem cerebral? Será que os meios de comunicação fazem uma lavagem cerebral em nossas mentes?
Na verdade, essa expressão foi usada pela primeira vez contra os soviéticos, durante a guerra das Coreias.
O agente da CIA, espião disfarçado de jornalista, Edward Hunter escreveu o primeiro livro intitulado "Lavagem Cerebral", com base em relatos dos soldados americanos que foram prisioneiros de guerra e que quando eram libertados, afirmavam que foram bem tratados e que aquela guera era um erro.
Esse livro foi publicado entre os anos 1950 e 1960, período em que eclodiu a "Guerra Fria", grande disputa ideológica e militar entre a superpotência soviética e americana.
Também foi o período da Guerra do Vietnã e o financiamento de dezenas de ditaduras militares em todos os continentes, tanto pró americanas, quanto pró soviéticas.
Antes e durante a Segunda Guerra Mundial o nazismo realizava varios estudios sobre memoria e manipulação cerebral, inclusive com tortura, drogas, eletrochoque e pesado interrogatório, com prisioneiros. Muitas destas experiências, continuaram secretamente, inclusive em regimes ditatoriais nas Américas, com financiamento secreto em manicômios e porões militares de presos políticos de ditaduras.
O livro Brasil: Ditadura Nunca Mais, Dom Paulo Evaristo Arns, retrata como foi a tentativa de lavagem cerebral de presos políticos em nosso país durante os 21 anos de regime autoritário (1964-1985).
Quem nunca ouviu falar do cantor e compositor paraibano Geraldo Vandré, que foi preso e violentamente torturado, por causa de suas canções, entre as quais: "pra não dizer que não falei das flores". Ele nunca mais foi a mesma pessoa, chegando, inclusive a ressaltar e valorizar seus torturadores.
Entre as décadas de 1960 e 1970, também tivemos o surgimento de grandes movimentos sociais alternativos, hippie, pacifista, ecológico, feminista, antirracista etc. Nesse período, para as elites dominantes e seus meios de comunicação, era como se essas pessoas tivessem sofrido uma lavagem cerebral de agentes comunistas e estavam combatendo os valores liberais e da família cristã.
Na ideologia da extrema direita, os professores universitários das áreas de ciencias humanas e sociais praticavam verdadeira lavagem cerebral contra os jovens, que se tornavam comunistas e líderes do movimento estudiantil de esquerda. Ou seja, nas universidades era criada uma cultura marxista capaz de manipular a mente dos jovens, como se estes tivessem sofrido uma lavagem cerebral.
Nesse bojo de absurdos e injúrias contra as academias, eram atrelados a esse discurso, as ideias de satanismo, ateísmo, drogas e rock in rool.
Mas, na contra mão desse discurso, se intensificavam movimentos da extrema direita de combate as teorias científicas já consolidadas como o evolucionismo. Assim, o criacionismo e os neopentecostais construíram uma verdadeira ofensiva, com forte investimento de igrejas em toda a América Latina e África. Nas primeiras décadas, os interesses eram aparentemente religiosos, mas, na medida em que os regimes militares eram relaxados, cada vez mais, evangélicos entravam na vida política, sempre ligados aos partidos de ideologia conservadora ou de extrema direita.
Dentro das igrejas, além da obrigação do dízimo, os pastores realizam verdadeira lavagem mental, sempre se utilizando de argumentos do velho testamento para converter seus fiéis sobre os perigos da ciência e do comunismo.
Os anos passaram e a ideia de lavagem cerebral passou a fazer parte do imaginário social. No lastro das posições de extrema direita os ataques agora são contra movimentos sociais como LGBTQIA+, Movimento Feminista, Movimento Negro e religiões de matriz africana, entre outros.
A grande mídia, controlada pelas elites capitalista e as redes sociais, tentam de todas as maneiras, controlar as maneiras para que uma ideia e um pensamento chegue ao público sob o seu comando, mas a mente humana, apesar de padrões, não é fácil de ser controlada, pois a capacidade de se reinventar é uma constante imprevisível.
Comentários
Enviar um comentário