AGASSIZ ALMEIDA - A Difícil Despedida de um Revolucionário.
Hoje estava assistindo a entrevista de Eduardo Moreira (ICL), com a filha de Che Guevara, Aleida Guevara. Uma entrevista emocionante e ao entrar em minhas redes, encontro uma mensagem do amigo Agassiz Filho, informando do falecimento do seu pai Agassiz Almeida, neste domingo, 21 de abril.
Muito dolorido com essa notícia, pois tive o prazer de conhecer o Velho e Camarada Agassiz Almeida e sua história de luta em defesa do Socialismo e no combate contra a Ditadura Militar (1964-1985).
Agassiz estava com 88 anos de plena lucidez e tive a felicidade e oportunidade de conhecer essa figura Revolucionária, no ano de 2006 quando estava na organização do Seminário sobre a Memória das Ligas Camponesas na Paraíba (28 e 29 de abril de 2006), juntamente com Emília Moreira, Waldir Porfírio, Ivan Targino, Marilda Meneses, Genaro Ieno, entre outros.
Nesse evento, Agassiz Almeida e eu, conversamos muito, inclusive sobre seu filho que era meu companheiro de trabalho na UEPB.
Desde aquela época, nos tornamos amigos e tive a oportunidade de conhecer algumas das suas obras e sua história de filho do Cariri Paraibano, apesar de ter nascido em Campina Grande. Sempre se orgulhava em falar da descoberta de Bentonita, importante mineral, descoberto em Serra Branca.
Por incrível que pareça, a sua lucidez e memória de elefante, me revelava como sobreviveu as perseguições durante a Ditadura Militar (1964-1985).
Como disse o Deputado Federal Luiz Couto (PT), "Agassiz Almeida é uma lenda viva", pois os desenhos, arranjos e relações em suas memórias, eram materiais de estudos sobre a história e a memória viva sobre o regime autoritário de 1964, que lhe prendeu e cassou seu mandato de Deputado. Era um político comprometido com as lutas dos trabalhadores rurais e contribuiu com a formação das Ligas Camponesas na Paraíba e em Pernambuco.
Além de uma vida política conturbada devido as perseguições, foi vereador em Campina Grande, foi Deputado Estadual e eleito Deputado Federal Constituinte em 1987.
Suas obras e escritos sempre estiveram voltados e dirigidos para as questões do Direito Constitucional e Direitos Humanos, além de questões econômicas e regionais, entre elas:
A economia e a conjuntura brasileira. João Pessoa: [s.n.], 1972; América Latina e a integração continental. Buenos Aires: [s.n.], 1974; O Nordeste e o seu desenvolvimento. João Pessoa: [s.n.], 1976; A Universidade e o contexto social. Campina Grande: [s.n], 1979; A Ditadura dos Generais: Bertrand Brasil, 2007; Memórias da Minha Vida, 2023, além de vários outros livros, e-book's e artigos recentes.
Sua prisão em Recife, as prisões de outros camaradas de luta e seu exílio político nas fazendas e esconderijos de Serra Branca, Cariri paraibano, lhe fizeram um pesquisador de Geologia autodidata, pois tinha sido cassado politicamente e proibido atuar como advogado, sendo exonerado do cargo do Ministério Público, além de ter sido exonerado do cargo de professor de Direito da UFPB.
Tristes histórias e memórias dos porões da Ditadura, pois tudo isso ele sentiu na pele, e viu seus companheiros desaparecer, como lembravs bem das mortes dos líderes camponeses, Nego Fuba, João Pedro Teixeira e outros de sua época.
Agassiz Almeida era um homem de ciência e política, um apaixonado pelos movimentos sociais e pelas causas humanitárias de tendências revolucionárias.
Lembro que sempre buscava contribuir com os pequenos partidos revolucionários do presente, sempre assinava seus jornais, revistas e contribuía com ajudas as mais diversas, pois dizia que era preciso manter essas forças acesas e em movimento.
Nunca se negava em fazer palestras, participar de mesas e ajudar jovens iniciantes na vida política. Se orgulhava em ser um velho lúcido, quanto ao papel ético e revolucionário para transformar o mundo na perspectiva do socialismo com Democracia.
Uma vez veio em Guarabira, só para renovar suas lembranças de quando era um jovem e sonhador político, que interagia com figuras politicas de Guarabira como, Osmar de Aquino, Maria Cuba e o sapateiro Chico do Baita (PCB), entre outros.
Agassiz Almeida me ligou e disse que estava vindo em Guarabira para matar saudades e queria ir em um restaurante rural. Ai combinamos de ir a Chã do Bodero para comer uma galinha de capoeira com feijão verde e colocar os papos em dia.
Adorava conversar com ele, pois eram aulas memoráveis, sempre trazia em seu gibão de consciência, fatos e vivências que nunca sonhei em saber em livros.
Foi das memórias de Agassiz Almeida que fiquei sabendo dos eloquentes discursos de Osmar de Aquino, advogado, político e líder popular daqui de Guarabira.
Para Agassiz um dos amigos mais bem preparado de sua época. Ele também gostava de contar sobre as Ligas Camponesas, as disputas internas do movimento, as conquistas e o início das perseguições aos seus líderes e aos camaradas que os apoiavam. Ele me contou que as Ligas iam de Sapé Mari até Guarabira, Pilar, Itabaiana e Campina Grande e por onde passava ferrovia tinha ação do movimento.
Depois do almoço ele sugeriu ir até o centro de Guarabira e fomos até a Praça João Pessoa e avenida D. Pedro II, enquanto tomávamos um sorvete, ele relembrava dos grandes comícios e discursos de Osmar, para uma multidão agitada. Lembrou que era um lugar muito diferente de então, mas a atmosfera política e as pessoas estavam em sua memória.
Também tivemos a oportunidade de lhe homenagear na UEPB, como palestrante de um Congresso de Ciências Jurídicas, organizado pela CA de Direito. Na época, comandado por João Andrade, Leomar Costa, Gerson Santos, Henrique Toscano, entre outros estudantes de Direito.
Agassiz Almeida foi fundamental para a consolidação final do Relatório da Comissão da Verdade, sobre as prisões, torturas e desaparecidos políticos durante a Ditadura de 1964.
Criada pelo governador Ricardo Vieira Coutinho por meio do Decreto nº 33.426, de 31 de outubro de 2012, foi coordenada pelos professores e pesquisadores: Paulo Giovani (Presidente), Fábio Fernando, Iranice Gonçalves, Irene Marinheiro, João Manoel, Lúcia Guerra e Waldir Porfírio.
Seus depoimentos preencheram lacunas importantes, pois os mortos e desaparecidos ganharam voz, de um dos perseguidos, preso e torturado pelo regime autoritário.
A amiga e Advogada Izabel Pontes, anistiada política aqui de Guarabira, que também foi uma perseguida da Ditadura Militar, quando era uma jovem dos movimentos pastorais, da epoca de Dom Élder Câmara, me enviou essa linda mensagem, que compartilho como registro da amiga do Agassiz Almeida, pois ele conseguia dialogar muito bem com as juventudes do campo democrático: "- Ao amigo e companheiro, AGASSIZ ALMEIDA - A vida dedicada à causa da Democracia, dos Direitos Humanos e do Brasil. Partiu no dia 21 de abril. Poderia haver data mais significativa e apropriada para que um herói da Pátria, da resistência democrática partisse para as estrelas? Um amigo e companheiro de lutas, de longas e instigantes conversas nos cafés e livrarias de João Pessoa. Há alguns anos, trocamos livros e impressões sobre a ditadura militar e sobre fascistização da sociedade brasileira. Certa vez, pediu a um senhor que o acompanhava que pegasse no carro um livro seu para presentear-me. Surpreendeu-se ao saber que eu era anistiada política. Há poucos meses, o vi de longe no café do Mag Shopping. Era a última vez. Feliz em ter sido sua contemporânea. Tinha a alma solidária, revolucionária.
Foi deputado constituinte, membro do MP, jurista, professor, escritor. Deixa um legado de resistência ao autoritarismo, ao nazifascismo. Além de ter sido um intelectual de primeira grandeza. Que, Agassiz Almeida, descanse em paz"!(Maria Izabel Pontes).
Retomando as lembranças, vejo que, mesmo com sua idade avançada, Agassiz era um homem de fibras e nunca abandonou as causas democráticas e populares,pois era um entusista de utopias ativas, sempre antenado com as tecnologias, não perdia tempo em combater os retrocessos da extrema direita.
Os movimentos de esquerda e de defesa da democracia, em tempos de extrema direita golpista, perde um grande nome da vida política da Paraíba e do Brasil, mas suas ideias estarão vivas em suas obras e em seu legado ético de princípios políticos socialistas.
Agassiz Almeida fez história, deixou um legado político comprometido com as classes populares, nasceu em 1935, foi criança na época da Segunda Guerra Mundial, foi um jovem estudante de Direito na decada de 1950 e com a Guerra Fria, enquanto começava a atuar na vida jurídica, política e acadêmica, foi surpreendido pela Ditadura Militar, viveu os anos de chumbo e com a abertura política, retomou sua vida política. Viu a queda do Muro de Berlim e a reabertura do mundo soviético, com as novas teses do Socialismo com Liberdade, participou ativamente desses novos momentos, era de uma velho guarda conectada com o mundo digital e se agora, completou seu ciclo, ficam as lições para as novas gerações dos que continuam esse legado ético de compromisso com a democracia e os direitos humanos.
Como afirmava o Comandante Che Guevara "Até a vitória sempre"!!! Agassiz Almeida Presente!!!
Dedico ao irmão Agassiz Almeida Filho e familiares. Força nessas horas e flores aos revolucionários que tombaram em plena luta!
Por Belarmino Mariano, imagem das redes sociais. Uma imagem do seu grande livro, que beira as duas décadas, mas continua super atual.
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