A Geografia Cultural, Política e Construção do Pensamento Individualista Liberal
1. INTRODUÇÃO
A Teoria Política do Individualismo Possessivo (de Hobbes a Locke). A Geografia Cultural, Política e o individualismo liberal, até os argumentos de Dupuy (1988) em relação aos comportamentos do mercado atual, nos leva a refletir sobre as atuais condições políticas impostas pelo liberalismo filosófico e econômico, até atingirmos o neoliberalismo.
Essas são as bases teóricas para aproximar os geógrafos, da perspectiva de entenderem o processo socicultural de construção geográfica do indivíduo liberal e do poder político para além do território físico. Para tanto, não podemos partir apenas de um pensar pessoal, nem partir do zero.
É importante partirmos de correntes de pensamentos historicamente experimentadas, não apenas enquanto suporte do já escrito, mas na perspectiva da abordagem crítica, para podermos analisar a realidade contemporânea do individualismo vivido nas diferentes esferas do cotidiano, servindo como parâmetro para novas reflexões e uma melhor compreensão do objeto de estudo, pautado tanto pela geografia cultural, quanto pela geografia política.
A Geografia Cultural é uma corrente de pensamento que permite um maior relacionamento e diálogos com outras ciências sociais como a História, Antropologia, Sociologia, Filosofia e Psicologia.
Essa escola de pensamento geográfico possibilita leituras diversas na perspectiva tanto do sociocultural, quanto do socioambiental como experimentos de práticas culturais em diferentes ângulos. Em especial por considerar a fenomenologia ou a percepção geografica dos fenômenos estudos.
Na geografia cultural, se destacam exemplos dos estudos sobre: "espaço e religião; espaço e cultura popular; espaço e simbolismo; paisagem e cultura; percepção ambiental e cultural; espaço e simbolismo" (CORRÊA, 1995, p. 03-11).
A Geografia Política, dentro da Geografia Humana clássica, nasceu muito mais influenciada pelo determinismo ambiental, do que pela própria ciência política, sociologia ou antropologia social.
De acordo com Raffestim (1993), o determinismo ambiental trazido pelo Alemão Friedrich Ratzel (1844-1904), para o campo da Geografia Política, apela mais para estudos de uma antropogeografia, com uma noção de homem, como um animal preso a um solo, que como outros animais, na disputa pelo domínio ou controle de um território, estabelece o conceito de "espaço vital", como uma espécie de necessidade natural por espaço para se tornar estado naçao forte.
Raffestim (1983), atribui a Charles Darwin a influencia no pensamento de Ratzel, atrelando as pesquisas políticoas ao naturalismo e, a partir daí traçar relações com as ideias de Estado Nação e soberania nacional, atrelada as ideias de territórios, áreas fisicas de solo.
A Geografia Política, nasceu muito mais para justificar ideologicamente a natureza do território, estado nação forte, enquanto domínio soberano, do que a própria noção de sociedade política estabeleceu no mundo.
A Geografia Política só ganhou maior capacidade de análise no século XX, com as analises críticas dis processos colonialistas, as guerras de disputas e controles territoriais, as duas grandes guerras mundiais e longo período de "Guerra Fria" entre as potências geopolíticas do século XX
O liberalismo político e filosófico, se alimentou do colonialismo mercantil e da lógica de controle dos territórios conquistados pelas potências européias, principalmente a partir do século XVI. Isso estabeleu uma "velha ordem geopolítica" que só quebrada basicamente no final do século XX.
A construção do indivíduo liberal a luz de idéias desenvolvidas a partir século XVII, será analisada a partir dos cientistas sociais como: Macpherson, Dupuy e Magalhães, pensadores à cerca do indivíduo liberal e da sociedade moderna ocidental.
Na Perspectiva da Geografia Cultural, podemos elencar pensadores como: Corrêa, Rosendahl e Cosgrove. Isso não significa uma exclusão de outros pensadores, mais apenas uma adequação aos limites espaciais do artigo .
A leitura dos autores acima foi no sentido de uma exposição geral, em relação ao pensamento teórico buscando um "fio de intercessão" ou seqüência dos fatos que serão levantados ao longo do texto e que servem como um primeiro referencial a cerca do indivíduo liberal ou do debate sobre sociedade e indivíduo, muito presente na Sociologia, Antropologia e, até certo ponto, não vem servindo de referência para geógrafos.
Enquanto diretrizes metodológicas elegemos a análise textual e temática dos diferentes autores no sentido de abordar no texto, uma visão panorâmica e direcionamento desta para nosso foco temático central - A construção do indivíduo liberal justificada por estes autores.
A intenção é na medida do possível, eliminar as ambiguidades e os pontos passíveis de dúvidas. Como a temática geral abrange uma temporalidade (século XVII ao século XX) muito ampla, fomos desenvolvendo uma estrutura a partir de fatos pontuais de maior destaque na história do pensamento liberal e seus desdobramentos.
2. A Teoria Política do Individualismo Possessivo (de Hobbes a Locke) In MACPHERSON.
Caminhar confundido a tanta heterogeneidade em constante movimento é uma experiência saudável e peculiar. Tudo parece mergulhado numa grande corrente, onde cada um procura o seu próprio objetivo. No meio de tantas pessoas e tamanha excitação, sinto-me cheio de paz, sozinho, pela primeira vez. Quanto mais alto o burburinho das ruas, mais quieto eu me torno (GOETHE. In. SENNETT, 1994, p. 228).
As raízes da Teoria Liberal-democrática européia no século XVII foi historicamente marcada por significativas contradições no plano econômico, social, cultural e político. Os elementos da vida urbana como atividades artesanais, manufaturas e mercantis criaram um forte intercâmbio comercial europeu que se estendeu para outras partes do mundo.
O surgimento e desenvolvimento da burguesia mercantil, crescimento do número de trabalhadores pobres mais livres, a decadência agrária da aristocracia rural e da nobreza e o fortalecimento dos ideais protestantes, críticas ao poder econômico e político da igreja católica foram fundamentais para a busca de teorias que dessem conta dessa nova realidade (CHAUÍ, 2000, p. 398).
Até que ponto os teóricos do século XVII, conseguiram explicar estas novas experiências conflitantes? Será que o indivíduo começa a definir sua existência a partir dessas novas condições sociais? Em sociedades entremamente depedentes das amarras sociais rigidas, como o indivíduo conseguirá se desvencilhar e se isso é realmente libertador?
O individualismo oriundo do século XVII continha a dificuldade central, residindo esta na sua qualidade possessiva. Sua qualidade possessiva se encontra na concepção do indivíduo como sendo essencialmente o proprietário de sua própria pessoa e de suas próprias capacidades, nada devendo à sociedade por elas. O indivíduo não era visto nem como um todo moral, nem como parte de um todo social mais amplo, mas como proprietário de si mesmo (...) achava-se que o indivíduo é livre na medida em que é proprietário de sua pessoa e de suas capacidades. A essência humana é ser livre da dependência das vontades alheias, e a liberdade existe no exercício da posse. (MACPHERSON, 1979, p. 15).
Macpherson (1979), elege Hobbes e Locke como referência para discutir a teoria política do individualismo possessivo. Três elementos importantes para entender a concepção de Hobbes e Locke: o Estado de Natureza, o Contrato Social e o Estado Civil. Estes conceitos, relacionados aos indivíduos que formam a sociedade e que aceitam submeter-se ao poder político das leis.
Para Hobbes, (2001), no Estado de natureza, os indivíduos vivem em luta constante, guerra de todos contra todos. Nesse estado reina o medo. "Para protegerem-se uns dos outros, os indivíduos, se armam, ocupam territórios, mesmo assim o que predomina é a lei do mais forte e a falta de garantias".
A natureza humana é marcada pela competição, desconfiança, poder e gloria. A força da astúcia (domínio). Estes são impulsionados pelo princípio de posse, ocupação, invasão e destruição uns dos outros. O Estado de natureza anterior ao estabelecimento da sociedade civil, um "estado de guerra". Assim ele justifica a necessidade do Estado de natureza que leva em consideração o homem social civilizado, baseado no poder do soberano (HOBBES, 2001).
Tanto na Geografia Cultural, quanto na Geografia Política, podemos considerar estes argumentos como representativos de um determinismo de ordem ambiental, "a natureza do homem", algo parecido com uma história estanque da política no espaço, sem considerar no entanto que diversos comportamentos humanos, apontaram para uma outra matriz de relações homens/homens e homens/natureza enquanto construção cultural e também política.
Esta linhagem permite uma construção simbólica para além da idéia de poder. Um exemplo é a própria difusão de técnicas, atitudes, idéias e valores que vão além do egoísmo e da submissão ao poder político soberano proposto por Hobbes (2001).
A grande diversidade cultural manifestada em diferentes espaços e tempos, permitem uma leitura dinâmica de experiências vividas individualmente ou coletivamente, enquanto práticas dominantes, práticas alternativas de grupos ou indivíduos não-dominantes e práticas de minorias excluídas aos olhos dos grupos dominantes, mas com importante valor simbólico e de significados (CORRÊA, In.: COSGROVE, 1995, p. 6-7).
A Luta pela sobrevivência, a busca por comida, agasalho e energia foi e ainda é uma constante em todas as culturas e esferas de poder do mundo, este tópico pode induzir a uma idéia de egoísmo enquanto marca da natureza do humano.
É ideia de construção natural e cultural dos grupos humanos enquanto competidores, em contrapartida, existe uma prática muito comum em todas as culturas que é no momento da fartura, a festa, a diversão, sempre regada com muita comida, bebida e alegria solidária.
Este não é um comportamento apenas dos momentos de abundância, mas também das fases de dificuldade dos grupos ou indivíduos. Estes agem de forma altruísta, solidária e ou benevolente. O coletivismo humano, definidor das sociedades é p maior desafio ais individualistas.
Mattelart (2000, p. 169-74), considera Kropotin e Reclus, dois importantes geógrafos do pensamento libertário, como defensores de uma rede igualitária na era neotécnica. Eles argumentam que os seres humanos agem muito mais em função da ajuda mútua espontânea, que a simples competição de todos contra todos, levantada por Hobbes (2001) e reforçadas por Darwin na idéia de competição e luta pela vida, com a sobreposição dos maís fortes e astuciosos.
Citado por Mattelart (2000), Reclus, em sua vasta obra geográfica, destaca em diferentes momentos que a maior força de uma sociedade é a fraternidade universal na construção humana, simpatia e respeito que são demonstrados em atos de solidariedade.
A intenção não é querer eliminar a grande tese da cultura política e até sociobiológica da origem e evolução do homem, enquanto organização de indivíduos competidores que se agrupam para o exercício das disputas por recursos naturais, geralmente respeitando a força e astúcia de um sobre os outros.
Estes são apenas alguns elementos de contraposição ao diálogo que ora desenvolvemos, sem perder de vista o fio de interconexão com o tema central do individualismo liberal.
O poder soberano necessário poderia passar a existir conforme dois modos: pela conquista e sujeição dos habitantes por um indivíduo ou um grupo soberano (soberania por aquisição), ou pelo acordo mutuo entre indivíduos para a transferência de todos os seus poderes naturais a um indivíduo ou grupo (soberania por instituição). Não fazia diferença saber como a soberania era estabelecida, desde que fosse reconhecida por todos os cidadãos (MACPHERSON, 1979, p. 31).
O pensamento teórico e filosófico de Hobbes, (2001) é visto como pressuposto para a idéia de construção do indivíduo liberal. Em sua principal obra: Leviatã (1611), apresenta todo um conjunto de argumentações a cerca do Estado soberano e da sociedade civil, como modelo político. Para ele "o poder soberano é uma necessidade natural dos indivíduos – corpus de proteção".
No pensamento de Hobbes (1611/2001), marcado pela citação de Macpherson (1972), encontramos a necessidade de superação do estado de natureza para a sociedade civil, poder político das leis e do contrato social, em que os indivíduos renunciam a liberdade natural em nome do soberano.
Um importante exemplo desse pensamento é a expansão dos interesses dos indivíduos burgueses e contraposição ao controle do Estado absolutista. As conturbações políticas, sociais e econômicas, chocavam os interesses da realeza/nobreza com os anseios dos mercadores.
As contradições podiam ser marcadas em relação ao espaço urbano, ao espaço rural e suas produções. Os mercadores, artesões e corporações de manufaturas; permeadas pelo trabalho assalariado marcavam essas novas relaçõesde produção e poder (CHAUÍ, 2000, p. 399).
Paras Hobbes (2001), o indivíduo constitui uma sociedade civil que necessita de um estado regulado por um soberano que impõe segurança e respeito a cada indivíduo.
Este soberano é colocado como uma necessidade natural – "Estado de natureza, garantindo o comprimento das leis e o estabelecimento dos contratos sociai" (HOBBES, 2001, p. 84).
Para o autor, sem esse estado de natureza, não existiria a sociedade racional civilizada, pois os indivíduos se posicionariam em constante luta de uns contra os outros. Essa visão para os geógrafos críticos representa um determinismo geográfico, tirando dos homens a natureza de sua cultura política e econômica.
O Estado de natureza da sociedade civil baseia-se na lei, nos contratos e respeito ao soberano, por medo dos outros indivíduos. (...) os homens civilizados estabelecem harmonias em relação aos negócios, ofícios, amizade de mercado, facções, ciúmes, risos e senso de ridículo. (...) toda a sociedade é para o lucro, para a glória e para a dominação. (...) uma sociedade de indivíduos que pensam, opinam, raciocinam, esperam e temem. Tudo isso em relação ao outro (MACPHERSON, 1979, p. 34-37).
Os principais aspectos apresentados podem estar na fisiologia e psicologia do indivíduo. Estabelecido pelo apetite, desejo, aversão, experiência e julgamento em continua mutação.
Podemos perceber os homens movidos por paixões, desejos, poder, riqueza, conhecimento e honra. Valores comparativos e atos voluntários e virtuosos. Neste caso, Macpherson (1979), usa todos os indicadores observados em sua vida social de choques e contrastes (burguesia, aristocracia, nobreza, realeza, assalariados etc).
É importante destacar que a Geografia Cultural que estamos relacionando com as demais ciências sociais, considera ao longo do século XX, importantes argumentos centrados na idéia de cultura caracterizada por componentes materiais, sociais, intelectuais e simbólicos (CORRÊA, 1995, p. 03).
O mercado competitivo é estabelecido a partir do poder de compra e de venda. Os indivíduos disputam o poder, mais poder como proteção do atual nível de poder ou aceitação do poder (HOBBES, 2001).
O Autor ver esses fatores como uma luta natural pelo poder ilimitado pela busca da propriedade e do poder. Ele justifica então, uma sociedade competitiva que precisa do soberano como modelo de controle social e contra a violência individual ( MACPHERSON,1979, p. 57).
Essa construção pode ser observada em alguns modelos sociais por Hobbes (2001) apresentadas:
*A sociedade de mercado possessivo - uma economia de mercado e poder;
* O estado de natureza soberana como estrutura legal e mediação dos contratos e poderes;
* Diferente da sociedade de costumes "status" – baseada nos costumes/tradições/comunidades dominantes;
* Existindo uma ausência de mercado, a terra, o trabalho e a produção são alvos de disputas entre rivais de outros grupos;
* Já a sociedade de mercado simples – o mercado não é de trabalho, mas de bens;
*Então existe uma produção e distribuição de bens e serviços pautados no trabalho, na liberdade e nas recompensas sem garantias (MACPHERSON,1979p. 58).
Na descrição destes modelos propostos por Hobbes (2001), em sua teoria política do estado natural da sociedade civilizada de mercado possessivo os indivíduos vão se diluíndo no tecido social e em suas contradições.
A Geografia Política aponta para, na sociedade de mercado competitivo moderno, as regras de poder e controle social apontam para um aprofundamento das disputas do mercado em uma "produção capitalista do espaço" (HARVEY, 2005).
Passa a existir uma guerra como força de coerção e o estabelecimento de novas regras em ralação aos indivíduos, o mercado e o estado marcam o aprofundamento dos embates (MACPHERSON,1979).
O liberalismo precisará de elementos que garantam aos indivíduos da burguesia um conjunto de teorias que dêem suporte aos seus direitos políticos e econômicos, reconhecidos e garantidos.
Duas questões são levantadas neste momento para a construção do indivíduo liberal: a primeira consiste na busca de garantias para o poder político burguês e a segunda consiste em garantir a propriedade privada como direito natural.
John Locke, no final do século XVII e inicio do século XVIII, apresentará uma formulação bastante coerente sobre a definição de direito natural a propriedade )MACPHERSON,1979).
Este pensador será analisado por Macpherson (1979), como um importante divisor teórico para a idéia de construção do indivíduo liberal, sedimentado do domínio do espaço e pautado em identidades culturais reconhecidas pela sociedade como direito natural do indivóduo:
A propriedade é um direito natural individual e o governo como garantidor das posses dos indivíduos. Direito como vida, liberdade, razão, riquezas (terras e bens). O direito natural com a apropriação pelo uso, trabalho e produção (MACPHERSON, 1979, p. 209).
Toda a argumentação descrita é baseada nos princípios do cristianismo. O mundo foi criado por Deus para o homem reinar e mesmo ‘expulso do Paraíso’, o homem continuou com o direito de com o seu suor e trabalho tirar da terra o seu pão. Para Locke (In. Macpherson, 1979), este é o legitimo e natural direito á propriedade privada como fruto do trabalho.
Consequentemente, a lógica da propriedade privada dos meios de produção, como direito natural aos que dominam este espaço, justifica a garantia liberal da apropriação, mesmo que seja excludente e desigual.
A burguesia tinha as bases para através do Estado Liberal, garantir o direito natural à propriedade, pois o Estado existe a partir do contrato social. Para o pensamento burguês liberal, quem não consegue com o seu trabalho retirar da terra suas posses, é um parasita, pobre, que não consegue a propriedade privada condição natural. Estes pobres são obrigados a trabalhar para os outros por um salário para que possam garantir sua propriedade, ou sobrevivência cotidiana.
Qual será a função do poder ou Estado soberano? Garantir a propriedade privada, por meio das leis ou da força? A teoria liberal defende que o estado proteja, mas não interfira na propriedade privada. Os proprietários como interessados na preservação ou ampliação de suas posses, são capazes de estabelecerem regras e normas de funcionamento e o Estado garante o funcionamento da sociedade civil.
Assim, a propriedade é o ato de posse que cada indivíduo busca enquanto prática do próprio corpo (vida), liberdade e bens conseguidos pela sua própria ação direta (trabalho).
A contradição pode ser a exata medida da idéia de indivíduo proprietário de si, fazendo o que quiser do seu corpo, vida e trabalho (ARANHA & MARTINS, 1992, p. 249).
Trabalho assalariado como estado de natureza com salário baseado no livre contrato. Alienação do trabalho como mercadoria vendida livremente. Esta será a base moral positiva para definição da sociedade capitalista.
Nestes termos, considera que os operários mesmo sendo proprietários de sua força de trabalho (energia), não dispõem do direito político, pois estes direitos já estão inclusos no direito dos seus patrões (MACPHERSON, 1979, p. 210).
Estes argumentos lançados por Locke (In. Macpherson, 1979), justificam o ‘individualismo possessivo’ e a idéia de democracia liberal pautada na liberdade do ser humano em qualquer relação com o outro.
O indivíduo como proprietário de si, pode alienar sua capacidade de trabalho, pois a sociedade de mercado possessivo estabelece amplas relações mercantis, enquanto que a sociedade política é um artifício humano, para proteção da propriedade do indivíduo perante a sociedade civil.
Nesse modelo o poder é estabelecido pela coerção da classe dominante e o sufrágio democrático como idéia de liberdade da sociedade de mercado possessivo coercitivo (MACPHERSON, 1979, p. 214).
O pensamento de Locke em suas teorias, consegue sedimentar as bases para implantação da sociedade liberal e a garantia dos direitos individuais.
O direito e o poder não se encontravam nos privilégios da tradição ou herança ou concessão divina, mas no contrato expresso pela livre manifestação da vontade dos indivíduos.
O direito natural à propriedade privada e a questão do conhecimento como resultado da experiência, da percepção e da sensibilidade humana, supera as suposições de que os homens possuíam idéias inatas.
Trazer este debate para o universo da Geografia, tanto Política, quanto Cultural, é reconhecer a importância da vida individual em convergência ou divergência com o grupo, um elemento fundador de uma dimensão espacial da cultural, sobretudo no que diz respeito ao princípio de poder cultural no espaço produzido e vivido na perspectiva do liberalismo ocidental e o seu controle colonial mercantil, em que o liberalismo ainda estava engatinhando.
Macpherson (1979), levanta três importantes categorias como idéia de democracia liberal e individualismo pluralista participativo como uma experiência teórica dos Estados Democráticos Liberais do Ocidente. Ele observa que este arranjo teórico vem desde o século XVII com Hobbes e Benthan que viam "o indivíduo como sendo essencialmente um maximizador e consumidor de utilidades (utilitarismo)".
Enquanto que os pensadores neo-idealistas Stuart e Green consideravam "os indivíduos em pleno exercício de suas faculdades e potencialidades" ( MACPHERSON, 1979, p. 261).
O mais importante desse capítulo é uma classificação dos tipos de pluralismo em relação ao indivíduo e a participação nas diferentes esferas sócio-econômicas e políticas:
* Pluralismo religioso – puritanismo do século XVII e capitalismo;
* Pluralismo humanista e neo-idealista – indivíduos insatisfeitos com os limites do desenvolvimento individual impostos pela sociedade de mercado competitivo;
* Pluralismo do produtor – o anarcosindicalismo francês e socialismo corporativo inglês. O homem produtor é governado por suas associações e ausência de forças estatais na condução dos interesses coletivos e individuais;
* Pluralismo anarquista – completa defesa da autogestão pluralista comunitária. Defendem a substituição do estado por comunidades autônomas;
* Pluralismo pragmático – A ciência e a tecnologia a serviço do desenvolvimento humano;
* Pluralismo liberal contemporâneo e ou americano – Apresenta aspectos contraditórios da sociedade de consumo e capitalismo maduro. Um pluralismo político e econômico em que os quadros políticos são empresários enquanto que os eleitores são os consumidores;
* Pluralismo libertário conservador – Ver o homem como consumidor e os grupos de interesse do indivíduo com o poder de pressionar o jogo do mercado em seu favor.
Estes diversos argumentos dão uma tônica forte ao debate sobre a construção cultural do indivíduo liberal, que a Geografia poderá resgatar para seu universo de reflexão, pois pensar o espaço a partir da idéia de indivíduo e de cultural é uma preocupação que deve ser remetida para a Geografia enquanto uma ciência da social.
3. Geografia Cultural, Democracia e Individualismo
A ordem dos domínios da moral, simpatia e atividade econômica. Estabelecendo uma emancipação da religião, da política e da moral tradicional. Estas obras negam a experiência dos domínios, ou teoria do conflito, apontando para a metáfora da "mão invisível", em que: "(...) Existindo equilíbrio econômico, haverá sobras e caridade espontânea".
(...) A simpatia passa a ser um processo diferente do egoísmo. Quando o indivíduo se coloca ele mesmo no lugar do outro, torna-se sensível e identificado, sofrendo um contágio positivo. (...) os princípios para a teoria da moral, os julgamentos morais de aprovação ou reprovação e o prazer da simpatia recíproca enquanto idéia de sentimento agregado. (...) Este é um dos principais prazeres da existência (Ibid, p. 90 a 97).
Nesse acordo de sentimento agradável, Smith chega ao ideário da simpatia ativa. Os atores sociais passam a representar no teatro social tais sentimentos e valores para uma sociedade equilibrada.
DUPUY (1988), considera a existência de um paradoxo nessa relação em que ator/espectador está em constante cena, simpatizando ou não com o cotidiano e experiências da vida em sociedade. Assim:
(...) Os indivíduos são levados à lógica da imitação (mimética), cópia ou lógica de uma produção, sem saber nem querer;
(...) Uma espécie de loucura ignorante do universo do mercado, da incerteza radical e suas probabilidades, interesses e forças obscuras do mercado;
(...) O indivíduo como imitação dos outros. Imitação de formas arbitrárias em relação ao indivíduo e a sociedade (Ibid, p. 100 a 102).
DUPUY (1988), não convencido do ideário Smithiano, destaca que o julgamento individual perde seu valor perante o resto do mundo em relação ao comportamento da média ou da maioria. O mercado financeiro estabelece uma busca desenfreada pelos dividendos na lógica dos preços de mercado.
Destacaria o atual estágio do individualista e monopolista, com a sequente destruição da diversidade cultural, quebra das leis teoricamente naturais da economia de mercado. Outro Exemplo é a oligopolização das corporações capitalistas. Será que o indivíduo perde a astúcia da razão em meio ao novo estágio de centralidade do capital.
4. DUPUY (1988), traçou alguns argumentos sobre o comportamento dos indivíduos em relação ao livre mercado
Uma psicologia louca dos indivíduos em suas corporações. Ganhador será aquele mais louco, que tiver a coragem de investir o máximo na sua loucura. Este é o individualismo do sujeito mercantil. (...) Nesta loucura psicológica do mercado, os indivíduos imitam todos os outros. A imitação da imitação enquanto potencialidade. Um sistema de atores em que todos se imitam na loucura do objeto mais inesperado. (...) O jogo especulativo em que cada um rouba dos outros, convencidos da vantagem. (Ibid, p. 101 a 105).
Para o autor, esse é um comportamento como razão individual a serviço da loucura individualista. A razão do mercado em títulos líquidos, suprimindo as instituições e ao longo do tempo desestruturando todo o mundo do capital físico ou (produtivo) real, em que a racionalidade fica presa nas regras e julgo do mercado.
Estas argumentações são percebidas com muita clareza no neoliberalismo contemporâneo. O indivíduo imerso na complexidade social.
Estas são talvez as grandes linhas da filosofia social, política e moral. Com experiências no campo do individualismo, anarquia, estado e utopia, argumentando em linhas gerais sobre lei, legislação e liberdade, e principalmente demonstrando a preocupação com a questão do indivíduo e a teoria de justiça social.
Em meio a esta fogueira de idéias DUPUY, (1988), argumenta que o indivíduo deve encontrar sua autonomia frente às contradições impostas quotidianamente, buscando um censo de justiça racional partilhada com seus semelhantes. Defende também uma teoria econômica racional não apenas em relação ao indivíduo, mas ao grupo que ele pertence. Uma idéia de individualismo radical , estabelecido a partir do total respeito dado a uma pessoa humana.
Uma hierarquia encabrestada em que o homem é subordinado a totalidade social manipulada. A complexidade do estado justo, repartição justa para o indivíduo. A cada um segundo seus méritos e capacidade, aceitação de justiça, liberdade enquanto estado de legalidade, ou justiça processual pura. (Ibid, p. 112).
No atual estágio, uma representação cada vez mais distante da teoria do conflito de classes e muito mais próxima dos indivíduos e seus interesses privados. Essa lógica de representação em que o governo se limita em atender as satisfações e direitos individuais, restringe o espaço ao corpus individual, O espaço enquanto cultura produzida coletivamente, perde sentido enquanto fragmentação e estilhaços de cada individualidade.
Um jogo em que os indivíduos estabelecem a concorrência e rivalidade. Os indivíduos reagem segundo uma aceitação do modelo social como um jogo de concorrência e luta para vencer o outro e ser o melhor, o mais capaz. Um vencedor e bem sucedido individualista incluído ao grupo que reconhece esse princípio de forma consensual (Ibid. p. 112).
O individualismo metodológico pode ser considerado um caminho de análise satisfatório da realidade social, pois o indivíduo e a propriedade privada são bases na construção teórica do liberalismo, raiz de categorias como o contrato social, democracia liberal e do liberalismo político que representam os interesses individuais.
Dizer que todas estas argumentações em relação à construção do indivíduo liberal já tenham consolidado tal experiência pode representar uma idéia frágil. As novas e vivas experiências nas relações entre os interesses do indivíduo e os interesses sociais devem ser pensados pela Geografia Cultural na perspectiva do espaço.
A compreensão de que o plano teórico do individualismo foi alimentado como idéia de plena liberdade da sociedade ocidental, pode ser um ideário da liberdade e do indivíduo em relação às instituições e a própria sociedade.
O próprio conceito de liberdade foi ao longo do tempo dissociado da categoria igualdade e as contradições existentes no seio da vida social vinculadas a restrita liberdade do indivíduo.
O individualismo consolida um ideário em que o interesse do indivíduo é a medida de todas as coisas e que a sociedade deve se moldar aos interesses deste.
Parece até que não existe a necessidade de luta por este ou aquele modelo social, pois a sociedade de certa forma retira do indivíduo o exercício de sua liberdade e o seu próprio projeto de interesse individual.
No atual estágio de desenvolvimento tecnológico e científico (mecatrônica, microeletrônica, inteligência artificial e cibernética), o universo de homens livres e vazios de capital e de trabalho é muito forte. Indivíduos descartáveis perambulando pelas avenidas das grandes metrópoles sem um lugar definido e, capturados pelo capital, vivem suas contradições.
Considerando à liberdade individual como singularidade humana. A questão é: O indivíduo liberal será capaz de no atual estágio de desenvolvimento, gerar um equilíbrio entre os interesses individuais e coletivos? Ou prevalecerá a instauração de um "reinado da soberania individual ou Associação de Egoístas"?
O "Estado Soberano" construído ao longo da história consolidou o indivíduo liberal possessivo discutidos e analisados por Macpherson ao longo da sua teoria política do individualismo possessivo. Mas a questão da propriedade como sendo apenas de alguns indivíduos, gera uma sociedade de desigualdades conflitantes e de exclusão societária.
Os sentimentos e práticas de solidariedade, cooperação, mutualismo e reciprocidade enquanto fortalecedores do indivíduo e eliminadores do egoísmo individualista não conseguiram sustentação na sociedade liberal. Mesmo assim, o ideário coletivista e societário, continua sendo pensado em diferentes esferas da sociedade liberal.
Para finalizar este artigo considera a seguinte questão: A propriedade como domínio do coletivo e posse do indivíduo para que este desempenhe livremente as suas potencialidades de produtor independente e coletivamente associado, ainda poderá ser um princípio possível de resgate para a sociedade liberal democrática?
5. Geografia Política, Capitalismo Maduro e Feridas no Espaço, Tempo: Globalização ou submundialização.
Modernidade e fragmentos do mundo contemporâneo global. As feridas deixadas pelo capitalismo maduro na lógica do espaço e do tempo.
As manobras do capital especulativo e o mapeamento das ações digitais e da multimídia como definidores do ciberespaço virtual.
Globalização e Submundialização como faces contraditórias, combinadas e complementares. Super safras e fome. Homens descartáveis e incertezas. Sociedade e Natureza fora das perspectivas do desenvolvimento sustentável.
Esta é uma narrativa objetiva de fragmentos do mundo moderno, natural e social construídos no decorrer dos últimos séculos. Não estamos querendo nos colocar como estudiosos do mundo total, ou intérpretes do mundo contemporâneo globalizado. Mas, apenas fazer uma interpretação de fragmentos tempo/ espaciais para a construção do conhecimento.
Pensar a natureza, a sociedade e o século XXI no contexto da atual (des)ordem mundial, passa por uma reflexão dos comportamentos sócio-econômicos e técnico-científicos vividos pela humanidade em seus diferentes estágios de desenvolvimento (SANTOS, 2001).
Santos (2001), não vicenciou muita coisa do começo do século XXI, mas precisamos compreender também, as novas expressões incorporadas ao cotidiano dos povos, tais como: chips, informática, fibra ótica, softwares, multimídia, cibercultura, plugados, era digital, mercadorização generalizada, viragem ecológica, pânico ecológico, neurochips, biotecnologia, animais clonados, genoma, transgênicos, doenças do próximo milênio, complexidade, acaso, catástrofes etc.
Os 500 anos de europeização do Novo Mundo, construídos pela exploração colonial, comercial e multinacional, deixaram um saldo de pobreza mundial contaminante dessa nova ordem, e que foi intensificada nos pós-guerras mundiais.
Com o fim da Guerra Fria, o livre comércio propagandeado pelo neoliberalismo tira do caminho da sociedade de mercado os empecilhos ideológicos e políticos de contraposição socialista ao sistema, diminuindo-se o pânico ecológico de uma explosão nuclear em cadeia, passando a sobrar espaço e tempo para as disputas mercantis.
As duas guerras mundiais criaram fronteiras militares, ideológicas e políticas que culminaram com os programas da Guerra Fria, e ao mesmo tempo alimentaram o progresso tecnológico e econômico das grandes potências.
Estas venderam para o mundo do século XX seus potenciais militares e técnico-científicos, além das ações imperialistas, calcadas no discurso de defesa do mundo e baseadas na agressão, subversão, terror ideológico e dominação econômica e cultural que moldaram o mundo da modernização.
Na escala geopolítica, tratamos de um espaço contemporâneo com um grande fosso entre a riqueza e à pobreza, dentro de cada lugar onde o sistema tornou-se hegemônico, especialmente no tocante à quebra das produções tradicionais e nas periferias do sistema central.
A mundialização da produção, da circulação e circuitos financeiros imediatos é manobrada pelo capital especulativo, que circula a uma velocidade luminar, com paradas de metrô em cada uma das bolsas de valores mundiais. Incontroláveis, transitórias e deixando marcas irreversíveis no mundo do capital produtivo.
Agora estamos diante das emoções digitais, tráfego veloz e intenso de idéias virtuais, nas super-redes de informações da internacional "Network". O século 21 já entrou pela nossa porta. Diagnosticar o quê? Quais as profecias que fracassarão, Nostradamus, Apocalipse? O difícil é aprisionar o futuro, por mais que psicologicamente busquemos a regularidade e o sentimento de constância do tempo.
Pensar em ler este grande texto que chamamos "mundo" a partir de uma interpretação total e única é uma das ilusões desfeitas.
O território mundial é agora mapeado pela multimídia, um território tão volátil quanto à riqueza financeira virtual que circunda nas bolsas de investimentos financeiros e desestrutura os valores expressos da produção.
A modernização do mundo nos apresenta um novo conjunto de instalações das relações sociais, movidas pela produção e por profunda apropriação da natureza nessa construção do sobreviver humano. Instalações em que podem ser lidas as contradições das relações e forças produtivas que em sua gênese combinam-se, contradizem-se e complementam-se simultaneamente.
A descabida concentração de capital, tanto em nível dos grupos econômicos, quanto em nível das regiões globais, bem como a nova revolução industrial (micro-eletrônica, cibernética, computacional, robótica, cognição etc.), começa a construir um mundo para homens de sobra, vazios de trabalho, desempregados e contraditoriamente perdidos de sua milenar cultura da atividade. Humanos sem trabalho e sem capital começam, aos montes, a perambular por um mundo de abundância controlada, apropriada pela selvageria de poucos.
Estamos diante do tempo de ilusões, apontando para todas as sortes de incertezas que podemos pensar. Essa lógica do real/virtual combina-se na construção de uma sociedade onde os homens são nitidamente descartáveis.
Vivemos a náusea existencial de uma sociedade saturada, em que o virtual, preenche muito mais os "vazios," que o próprio racionalismo dessa geração que estava adaptada e apoiada no progresso da ciência.
A vida sem sentido começa a tonificar os novos seres ciberculturais. Essa nova era digital dos "plugados" não define um chão para os nossos pés.
A submundialização do planeta não é uma idéia profética, mas a vivência iniciada nestas últimas décadas em quase todos os recantos do mundo.
O que segue é na medida de seu ritmo, o mundo do desemprego, tempo/ espaço como instalações irreversíveis para o trágico choque secular, que será o puro demonstrativo de que as crises do modelo liberal da economia de mercado não são apenas cíclicas, mas constantes e cumulativas, e que levará ao abismo todos, não importando aí ordem de chegada, todos somos "filhos do medo", e esta é a violação em estar vivo diante do real e da certeza.
O mundo caminha para uma governança monoplanetária, centrada no poder do G-8, FMI e Banco Mundial, "trivium" de sustentação dessa nova ordem. O que nos resta é o caminhar para a submundialização, e para os que acham ser os donos da chave desse mundo, não adiantará levantar muralhas, pois a "barbárie do subdesenvolvimento" é um vírus instalado desde a gênese do sistema que é aberto, desigual/ combinado e globalizado.
A submundialização pode ser lida como urbanização da pobreza, com grandes aglomerados populacionais, onde os bolsões de miseráveis são territorialmente expressivos.
Pobres espremidos em áreas de riscos que, na maioria das vezes, são ilegais perante o poder público e desde meados do século XX, se formaran com o estimulo do capital internacional a sair do campo e migrar para as cidades, gerando os "exercitos de reserva" para o mercado de trabalho.
Em muitos casos, essas populações não são assistidas de infra-estrutura básica (água encanada, instalações sanitárias, eletrificação, saúde, educação, etc.). Este é o modelo global de desenvolvimento urbano/industrial, em especial nos países periféricos do capitalismo central.
Este é um quadro pintado pela realidade dos grandes centros urbanos dos países subdesenvolvidos. Áreas como a Grande São Paulo e Rio de Janeiro, Salvador, Caracas, Lima, Cidade do México, Nova Deli, Bombaim, Lagos, Cairo, Luanda, e muitas outras. São comuns as favelas, mocambos e palafitas em áreas de encostas, morros, beira de rio, mangues, limites de movimentadas rodovias ou embaixo das redes de alta tensão elétrica. A falta de assistência pública de serviços básicos é lamentável.
Estamos diante dos quinhentos anos de profundas alterações sócioeconômicas, culturais e ambientais que nosso estágio de civilização propiciou. O lucro mata a natureza e não contabiliza as perdas ambientas.
Vivemos as super safras ao lado da fome. A crise é econômica, ecológica, moral, ética e de atitudes humanas. Na realidade, estamos diante de uma encruzilhada, em que a humanidade não acompanha o ritmo do progresso de uma minoria que comanda o mundial e a natureza não aceita esse ritmo de desenvolvimento imposto pelos homens.
A exploração abusiva dos recursos naturais nos coloca diante de uma natureza fúnebre. A natureza como ambiente dos lugares estragados, a natureza como um depósito de lixo a céu aberto.
Uma coisa é certa, diante de elevado grau de submundialização da civilização humana, este modelo urbano industrial e consumista de desenvolvimento não consegue dar a mesma qualidade de vida para toda a população do mundo, além de não se sustentar ecologicamente.
6. A CULTURA DA POBREZA E A LÓGICA DO LIBERALISMO
"Miséria é miséria em qualquer quanto. Riquezas são diferentes. A fome está em toda parte. (...) Índio, mulato, preto, branco. (...) A morte não causa mais espanto (...) Cores, raças, castas. Riquezas são diferentes" (Arnaldo Antunes/Sérgio Brito/Paulo Miklos, Titãs, BMG/Ariola, São Paulo, 1992).
As idéias são relacionar a cultura da pobreza e a pobreza propriamente dita. Neste sentido, usaremos os escritos de Lewis (1969), "A Cultura da Pobreza". E Mueller (1997), em um artigo que trata da Degradação da Pobreza no Brasil.
Para além das ideias do liberalismo e do livre mercado, temos variados exemplos pertinentes ao tema, para substanciar nossa visão de pobreza enquanto uma condição social tanto no físico ou material, quanto nas dimensões culturais. Sendo representados nos dias atuais como parâmetros para uma cidadania incompleta.
Antes de enveredarmos pelos conceitos de Cultura da Pobreza, propostos por Lewis (1969), ou pela degradação da pobreza de Mueller (1997), enfatizaremos alguns cultuadores da pobreza como padres, pastores, fotógrafos, poetas e pintores. Isto é, aqueles que vivem da cultura da pobreza e que geralmente não vivem na pobreza ou em sua cultura.
Os padres e pastores por fazerem seus votos de pobreza em uma visão do Cristo Primitivo, defensor de um reino em que os pobres seriam os bem aventurados. Pois para o cristianismo, seria "mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha, do que um rico entrar no reino do céu". Os Franciscanos são um excelente exemplo dos cultuadores da pobreza, mas a ideia não é criarmos esteriótipos.
Os poetas quando falam dos moribundos que perambulam pelas calçadas da vida, ou quando se alimentam com os restos podres da cidade. Ou quando escrevem sobre camas de papelão nos quartos de calçadas das grandes lojas de departamento que embalam os sonhos de cola dos meninos e meninas de rua.
As cenas urbanas de países subdesenvolvidos nas periferias do imperialismo capitalista, nos alertam sobre pensarmos se faz sentido o neoliberalismo, como discursos de liberalização total, enquanto o mundo é gigantesco retalhos de extrema pobreza.
Os fotógrafos e pintores, povoam suas telas com uma geografia dos miseráveis, expressões de desconcerto do olhar, crianças barrigudas e casebres de taipa enquadrados e fixos, seguem expostos pelas ruas avenidas dos mais recônditos lugares. As máquinas digitais e o pincel do habilidoso artista, pinta cenas fantásticas de uma pobreza extrema.
O jans saído das fábricas e oficinas carregados de graça e fuligem em corpos operários, ganhou as ruas e passarelas da moda mundial. A cultura da pobreza lida pelo rústico e pela simplicidade do não ter, do despossuir tonificou esse modelo ou desenho social que serve de protesto e consumo, nos deixando confundidos, entre a cena, o cenário e a poesia do mercado concreto em seus diversos papeis.
O sonho de casamentos e amores impossíveis entre protagonistas ricos e pobres são os motivos de vasta literatura em que as tramas são construídas em dramas, tragédias e comédias. Aparecendo enquadrados pelos sonhos dos pobres encarcerados em seu real e pela "fome dos meninos que têm fome". E que geralmente, só se realizam nos melodramas das telenovelas "globais".
Lewis (1969), conceitua a Cultura da Pobreza como sendo tanto uma adaptação quanto uma reação dos pobres a sua posição marginal numa sociedade estratificada em classes, altamente individualista, capitalista.
Esse modelo representa um esforço para enfrentar os sentimentos de desesperança e desespero que se desenvolvem quando verificam a impossibilidade de alcançar êxito de acordo com os valores e objetivos da sociedade envolvente.
Nesse contexto, temos como estrutura lógica da cultura da pobreza um modo de vida de parte da sociedade, na qual, suas características se materializam em diferentes momentos históricos, emergindo com maior força na sociedade de consumo, em que, a ideia de pobreza e a natureza da pobreza toma maior corpo físico.
Tanto do ponto de vista de indivíduos, como de famílias e da sociedade, passando por regiões e países. A cultura da pobreza assume perfil espacial ou territorial, determinada pelas condições de classe, valores e atitudes que os pobres, assumido, tanto individualmente quanto coletivamente. Essa pobreza enquanto privação e dificuldades materiais vai se transformando em um modo de vida a ser transmitido pela sociedade e pela família.
Podemos pensar na origem da cultura da pobreza e não conseguimos data-la, mas a lógica aponta para os primeiros passos da história de exclusão, escravidão e submissão de povos ao longo das civilizações. Na atualidade podemos colocar os pobres tão distantes e tão próximos, pois ambos estão inseridos no contexto histórico, pois foram submetidos aos choques culturais do início da modernidade.
A pibreza se faz em um tempo tão presente que em menos de quinhentos anos globalizou a pobreza e condicionou homens, mulheres e crianças a condição sub humana de alienação material e intelectual.
A marca maior desse quadro liberal de manutenção estratégica da pobreza foi a quebra dos modelos tradicionais de organização social, pautados na comunhão, na solidariedade e no coletivismo, que destruídos em suas bases, criaram as condições favoráveis a instituição da cultura da pobreza.
Podemos ver que, em função dos ritmos acelerados de modernização, quando essa quebra se processa, temos o florescer da cultura da pobreza como uma subcultura da sociedade.
O mudo social desajustado, criou as relações de dominação do homem pelo homem. Estes foram os pré requisitos mínimos para uma forte carga política e ideológica das experiências humanas.
Temos então, as condições de segregação, violência, fome, subdesenvolvimento e exploração como molas propulsoras da cultura da pobreza, na qual, os pobres vão em meio a sua realidade, incutindo geração após geração, um forte sentimento de marginalidade, de desamparo, de dependência, de inferioridade, de infortúnio e falta de aspirações.
No contexto Brasileiro, temos uma acentuada presença da cultura da pobreza, engendrada pelo modelo de dominação e exploração colonial, que gerou um desenvolvimento desigual adotado no país em séculos.
Para entendermos a cultura da pobreza e sua materialização no Brasil, teremos como suporte o texto de Mueller (1997), que ao tratar da degradação da pobreza, especialmente nas cinco últimas décadas, faz uma crítica ao estilo de desenvolvimento adotado e como a ecologia econômica pode apontar soluções para as questões socioambientais em relação as camadas pobres da sociedade brasileira.
O autor ao identificar o modelo de desenvolvimento adotado no Brasil, como sendo desigual, ele busca em alguns indicadores socioambientais os argumentos que justificam a degradação dos pobres.
Os maiores problemas da pobreza no Brasil da atualidade, estão na concentração urbana dos pobres, na degradação sanitária, na desigual distribuição da renda e no baixo padrão de consumo dos pobres.
O Brasil a partir dos anos cinqüenta, começou a viver um surto de modernização (industrialização, urbanização e crescimento econômico). Na verdade, esse modelo foi limitado e concentrado em áreas do Centro - Sul do país, gerando uma concentração urbana da pobreza (MUELLER, 1997).
A partir dos anos 1970, a modernização ou industrialização econômica atinge o campo. Esse momento será marcado pelos CAI´s (complexos agro-industriais). Identificado como modernização conservadora da agricultura, onde máquinas, ferramentas e produtos da indústria são produzidos para ampliar a produção agrícola.
Modernização conservadora, pois não alterou a estrutura fundiária do país, que pela falta de uma reforma agrária nacional, favoreceu um forte deslocamentos de pessoas pobres do campo para os grandes e médios centros urbanos do país.
A migração rural - urbana em nosso país, gerou diferentes instalações da pobreza nos grandes centros urbanos, onde a submoradia, as deficiências sanitárias e os prejuízos ambientas são alguns dos aspectos da cultura da pobreza no Brasil.
Este estilo de desenvolvimento desigual, gerou uma urbanização da pobreza, com grades aglomerados populacionais, onde os bolsões de miseráveis são territorialmente expressivos. Pobres espremidos em áreas de riscos que na maioria das vezes são ilegais perante o poder público, não assistindo estas áreas de uma infra estrutura básica (água encanada, instalações sanitárias, eletrificação, saúde, educação etc).
Os assentamentos de pobres, são áreas ambientalmente frágeis e fora do zoneamento urbano que, em função das mínimas condições de instalação, com: * elevados riscos de desabamento;
* sujeitas as enchentes, sem estrutura sanitária
* pequenos espaços para famílias numerosas e as vezes agregadas, com acústica desapropriada para os altos ruídos;
* areas sem condições para se contrapor as variações de temperatura e vulnerável a sujeira, aos ratos, baratas e diversos tipos de doenças infecto-contagiosas. Esse quadro se cristalizou em todos os grandes e médios centros urbanos do Brasil.
Nos grandes centros urbanos do país, em áreas como a Grande São Paulo e Rio de Janeiro, Salvador, Recife, Belo Horizonte ou Porto Alegre, além das outras grandes e médias cidades brasileiras, são comuns as favelas, mocambos e palafitas em áreas de manguezais, encostas, morros, no limites de movimentadas rodovias ou em baixo das redes de alta tensão elétrica estão espacializadas as sub moradias urbanas.
As estimativas de 1960, feitas pelo IBGE, indicavam aproximadamente 16 milhões de pobres no Brasil. Em 1998, este número já estava na casa dos 45 milhões de pobres, amontoados em especial nos grandes centros urbanos.
A falta de assistência pública de serviços básicos erM lamentáveis. Em muitos casos não existia água encanada e a colete de lixo nem sempre era feita, além da falta de instalações sanitárias, geravam um acumulo de lixo, dejetos humanos e consumo de águas contaminadas que eram os principais indicadores de doenças infecto-contagiosas.
Esse quadro só começou a ser alterado a partir do início do século XXI, com os governos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e sua sucessora Dilma Rulsseff. Mas apesar de melhoras, a pobreza em nosso país ainda é histórica, pois três últimas décadas acentuou-se nas grandess metrópoles, em função da grande concentração de renda e das disparidades regionais.
Mesoque tenha sido notada uma década de melhoras, o crescimento econômico do Brasil, não veio acompanhado das melhorias sociais para a população de baixa renda, ficando excluída do consumo, de saúde, educação, moradia, qualificação, lazer etc.
Este modelo de desenvolvimento, concentrador e excludente, gerou disparidades regionais ainda maiores. Temos as regiões Nordeste e Norte como áreas marcadas fortemente pela pobreza de sua população, mas nas periferias urbanas de grandes centros como São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte ou Porto Alegre, existem pólos de extrema pobreza.
Nessa cultura da pobreza, temos uma forte cobrança dos deveres e obrigações dos pobres, que vão desde a obrigatoriedade do voto para os analfabetos até ocupação em alguma atividade (produção), mas a estes mesmos pobres, são negados os direitos e garantias mínimas. É isto que identificamos como a cidadania incompleta, como raiz de sustentação da cultura e da degradação da pobreza, tanto em nível global, como a nível nacional, regional e local.
7. A LÓGICA GEOESTRATÉGICA DO DINHEIRO NA DOMINAÇÃO CAPITALISTA DO MUNDO
Estamos diante de uma experiência política muito nova, em várias partes do mundo, passou a existir o questionamento do colonialismo monetário internacional e tudo isso tem um peso significativo na história do mundo.
Primeiro pelo fato de que, o mundo passou séculos controlado por grandes potências europeias, que estruturam uma ordem geopolítica mundial, em que as metrópoles europeias, controlavam territórios em diferentes continentes e tratavam estes como seus, verdadeiras reservas de exploração quase que inesgotáveis.
Desde o pré-capitalismo mercantil e da busca de rotas comerciais para as índias orientais que os europeus estabeleceram grandes navegações através do oceano atlântico, chegando aos continentes americanos, conquistando o litoral africano e chegando até o oceano índico, para daí atingir o Oriente Médio e a Índia. Daí para o Pacífico e para a Oceania e Sudeste Asiático.
Esse processo durou uns dois séculos (XV a XVII), tempo suficiente para o mundo se tornar colônia da Europa e com isso, essa região do mundo conseguiu concentrar as bases econômicas para consolidar o capitalismo imperialista (RAFFESTIN, 1993).
Do trabalho escravo as relações assalariadas, se desenvolveu uma espécie de Divisão Internacional do Trabalho (DIT), onde as colônias produziam matérias primas e a Europa manufaturava, até que os avanços e lucros desse modelo, ampliaram a capacidade técnica que originou e desenvolveu a maquinofatura.
Estes foram os pressupostos básicos para que o mundo se tornasse um grande celeiro de riquezas que eram concentradas na Europa, enquanto a pobreza absoluta se concentrava nos territórios coloniais explorados.
Para Raffestin (1993), processos revoltosos e lutas por independência começaram a ocorrer em diferentes partes do mundo e, mesmo dentro da Europa, iluministas começaram a questionar esse modelo de exploração e de concentração de riquezas, inclusive a ideia de regimes monárquicos absolutistas, que pilhavam as riquezas coloniais enquanto muitos europeus pobres, estavam as margens da realiza e da nobreza, inclusive os burgueses oriundos das rotas mercantilistas.
O colonialismo se estruturava em três bases: O controle militar e de opressão aos que questionassem o poder; o controle cultural ideológico e religioso preso ao cristianismo católico em colônias portuguesas, espanholas e francesas e o controle protestante anglicano nas colônias britânicas; o controle econômico com todas as riquezas e impostos transportados para as metrópoles (SEQUEIRA, 2014).
O imperialismo colonialista também se estruturava na ideia de superioridade e supremacia de raças do homem branco europeu "civilizado", sobre os povos selvagens, nativos e /ou bárbaros.
A ideologia escravocrata e supremacista branca, dominou todos os cenários de poder entre os agentes europeus e os povos colonizados (línguas, religião, regras sociais, costumes, regras jurídicas), eram impostas aos colonos em seus próprios territórios.
Isso gerou, genocídio, imposição econômica, apropriação territorial, massacres, violência sexual, perseguição religiosa, forte degradação ambiental e muitos outros males, como a completa extinção de milhares de etnias e culturas nativas. Povos inteiros foram dizimados, tanto por doenças, quanto por guerras, com morte sumária dos povos que lutaram e resistiram aos colonizadores europeus. Os que sobreviveram foram aculturados.
Nesse processo histórico, houve resistência e, em alguns territórios, a luta de independência colonial deu resultados positivos e alguns territórios conseguiram a libertação territorial de suas áreas. Mas esse processo só foi possível devido ao próprio processo de disputas internas entre as grandes potências, que se entranharam "guerras intestinais" entre os séculos XVII, XVIII e XIX (DIAS, 2005).
As principais potências europeias como Portugal, Espanha e Inglaterra, que foram as primeiras nações a fazer grandes conquistas territoriais, passaram a rivalizar as suas conquistas, contra outros países como: França, Holanda, Bélgica, Alemanha e Itália, entre outros.
Estes países estiverem em conflitos diretamente voltados para as disputas pelas partilhas coloniais, em especial da África, Ásia e Oceania. As américas já estavam quase que completamente dominadas por Portugal, Espanha, Reino Unido, França e até o Império Czarista Russo, já tinha estabelecido colônia do Alaska canadense.
Alguns autores como Almeida (1994)
chegam a chamar essa fase de neocolonialismo, pois entre os séculos XVIII e XIX, contavam com novas investidas e diferentes interesses, diante de avanços tecnológicos e o desenvolvimento da Revolução Industrial, que exigia novas relações e novos poderes para a garantia de mercados aos produtos da crescente industrialização, em especial no Reio Unindo, que passou a hegemonizar a geopolítica internacional, submetendo inclusive alguns países europeus, enquanto perdia colônias como a independência dos Estados Unidos da América do Norte (USA), conquistava territórios e mercados na África, Oriente Médio e Oceania (VESENTINI, 2008).
Os Estados Unidos que conquistaram sua independência (1783), com ajuda da França e Espanha, com base em teses iluministas e liberais, seguidas de fortes críticas ao colonialismo europeu das Américas, África e demais continentes, gerou uma nova perspectiva de independência em outras partes do mundo.
Não durou muito e os Norte-Americanos, iniciaram as suas próprias geoestratégias e geopolíticas expansionistas e neocolonialista dos territórios vizinhos e das terras indígenas ao leste do continente, adentrando em áreas francesas e espanholas.
De trezes pequenas colônias do Atlântico, em menos de um século, os USA já haviam triplicado o tamanho dos seus territórios, utilizando cinco estratégias: diplomacia, compra, anexação, extermínio dos povos nativos e guerras, principalmente contra os espanhóis, mexicanos e nações indígenas do Norte. As terras americanas se estenderam do Atlântico ao Pacifico, das montanhas rochosas aos desertos mexicanos.
Desse neocolonialismo dos Estados Unidos, foram estabelecidas as noções gerais da ideologia supremacista branca, no que ficou definido como "doutrina manifesto", ideia politico religiosa de que era vontade de Deus que os Norte-americanos governassem todas as Américas e por que não, todo o mundo. Esse modelo ainda é máxima da geopolítica do imperialismo dos Estados Unidos, sempre se colocando como superiores e impositores de suas políticas ideológicas, econômicas e culturais (VESENTINI, 2008).
Muitos países foram conquistando suas independências, especialmente nas áreas espanholas e portuguesas que perderam força política internas, com as disputas dentro da própria Europa, com as insatisfações francesas, alemãs e italianas, que estiveram de fora das partilhas coloniais.
De acordo com Porter(1993), o século XIX foi marcado por grandes guerras e até certo ponto, envolveram diretamente o Reino Unido, França, Prússia (Alemanha), Império Austro-húngaro, Rússia e outros. Na brecha destas disputas, muitas Colônias das Américas foram se tornando independentes politicamente, mais totalmente presas aos processos econômicos que eram controlados pelas elites agrárias e que continuaram realizando os negócios mercantis internacionais, também controlando as novas relações políticas, com o estabelecimento das repúblicas oligarcas e império monárquico no Brasil.
Os povos nativos, escravizados e alforriados, viraram trabalhadores rurais e urbanos a serviço das elites agrárias e mão-de-obra barata dos produtos de exportação e ciclos econômicos iniciados pelos colonizadores. A independência política não alterou a lógica comercial mercantil. As elites brancas, continuaram no controle dos territórios e dos negócios em todos os territórios "independentes".
Na África, Oriente Médio, Ásia e Oceania, as colônias continuavam sob a dependência das potencias europeias, que disputavam entre si esse controle, observando que o Reino Unido, levava maior vantagem política, econômica e militar, reforçadas da revolução tecnológica de suas industrias.
Estas disputas levaram a Europa e o mundo a Primeira Guerra Mundial (1ªGM). Uma guerra das potências imperialistas europeias, pelo controle do mundo. É o capitalismo na pior de sua selvageria, a guerra e a pilhagem das riquezas dos povos. Foram quatro anos de massacres e ao final, nada havia sido efetivamente conquistado (VESENTINI, 2008).
Países inteiros foram destruídos, impérios como o Austro-húngaro e o russo foram destruídos e se fragmentaram em pequenas nações da Europa Oriental.
O Império Czarista da Rússia entrou em colapso, o governo retirou suas tropas da 1ªGM, mas foi pior, pois milhares de soldados russos se uniram aos operários, camponeses e burgueses para derrubar o império.
De 1917 até 1921, os russos viveram uma violenta guerra civil, que ao final, gerou a primeira experiência de socialismo real da história humana.
Essa parte do mundo foi paulatinamente sendo isolada do mundo dito capitalista e os Estados Unidos, que não entraram diretamente na 1ªGM, haviam lucrado muito com a venda de produtos militares aos aliados em Guerra, se tornando uma nova potência capitalista, com excelente base industrial, passando a fornecer para a Europa destruída, todos os tipos de produtos e reconstruções.
A Primeira Guerra mundial foi um excelente negócio para os Norte-Americanos e isso passou a ser uma estratégia de sua economia internacional. O país criou o maior seguimento industrial militar do mundo contemporâneo. Sua influência geoeconômica já estava em todos os continentes e, o enfraquecimento das potencias imperialistas europeias foram preenchidas pelo capitalismo Norte-americano.
O colonialismo monetário que era controlado pelo Reino Unido e pela Libra Esterlina, foi cedendo espaço ao dólar e aos industriais dos Estados Unidos. Estes começaram a expandir sua industrialização, com a instalação de multinacionais e pelo controle de capital, com investimento em setores estratégicos de empresas de energia, transporte, siderurgia, petroquímica e muitas outras.
As bolsas de valores, as rotas de comercio internacional que durante a 1ªGM, passaram a ser controladas por empresas americanas, deram uma nova dinâmica a velha ordem internacional. Foi mais ou menos assim que se estruturou a mais nova potencia capitalista e imperialista do século XX.
O capitalismo europeu e o imperialismo em crise, dentro do velho continente, demorou mais de uma década para se reestabelecer, em meio a grandes disputas nacionalistas internas e o estabelecimento de novas culturas políticas extremistas e conservadoras, entre o final da primeira guerra mundial e revolução russa, se estabeleceram ideologias fascistas na Espanha, Itália, França e Alemanha (DIAS, 2012).
Na Alemanha o fascismo se transformou em nazismo, mas com os mesmos princípios extremistas, xenofóbicos e busca de uma grande líder nacionalista, capaz de reestabelecer os valores do grande império dos seus antepassados.
Ideologicamente os fascistas elegeram inimigos comuns: O socialismo e os judeus foram se transformando em grandes culpados pelas desgraças do mundo pós-guerra. O retorno do supremacismo da raça pura, o amor exagerado a pátria em frangalhos e a xenofobia dos inimigos da 1ªGM, alimentaram ainda mais, aos líderes que ascendiam ao poder político dos seus países em crise.
Essa crise que se aprofundou ainda mais, ao final da década de 1920 e inicio de 1930, com a quebra da bolsa de valores de Nova York e um novo colapso econômico do sistema capitalista internacional.
A crise deu ainda mais força as ideologias fascistas e no mundo todo, grupos nacionalistas e de extrema direita criaram agremiações partidárias e passaram a defender as teorias e valores extremistas do fascismo.
Da quebra da Bolsa de Valores de Nova York, a ascensão do fascismo e nazismo ao poder, em países como Itália e Alemanha, reacenderam o pavio de uma nova guerra territorial e expansionista.
Os mesmos inimigos da 1ªGM eram ameaçados e provocados para novos confrontos. Alemanha e Itália se uniram em nítidos acordos, liderados por Benedito Mussolini e Adolf Hitler.
Nesse meio tempo, conquistaram uma aliança no extremo Oriente com o imperador japonês Hirohito I, que já tocava o terror em territórios coreanos, chineses e da Oceania, em especial nas áreas que eram colonialmente controladas pelas potencias europeias como Reino Unido e França.
Estas foram as bases da Segunda Guerra Mundial (2ªGM), que estremeceram as bases do mundo a partir de 1939, quando Hitler e Mussolini começaram a atacar importantes territórios da Europa Oriental, França e Reino Unido em diferentes regiões. Incialmente, os combates se concentram na Europa, mas rapidamente, tínhamos as colônias e ex-colônias envoltas com a 2ªGM (
SEMPA, 2005).
Era uma guerra totalmente imperialista e capitalista, mas os discursos ideológicos das ideias de nacionalismo, patriotismo e inimigos comuns, arrastou as classes proletárias, mesmo que os líderes socialistas alertassem que essa não era uma guerra proletária contra o capitalismo, o discurso nacionalista e patriótico, empurrou milhões de pessoas ao conflito, que rapidamente se tornou mundial, mesmo que o cenário geopolítico tenha sido inicialmente dentro da Europa.
A Rússia, que havia se tornado em uma União de Repúblicas Socialistas Soviéticas como vários países aliados, inicialmente não entraram na guerra que, já estava entrando no terceiro ano de conflitos, mas as tropas nazistas e fascistas se declaravam completamente inimigas dos socialistas, judeus e de outras nacionalidades como franceses, ingleses e qualquer um que se declarasse aliado dos franco britânicos.
Os Estados Unidos, do outro lado do mundo, eram fornecedores diretos das tropas inglesas e francesas, mais até 1942, ainda não mobilizado suas tropas para a guerra.
Apesar de em 1939, Hitler e Stalin terem assinado um acordo de não agressão. A partir de 1941, como Hitler e Mussolini se sentiram fortes e com grandes conquistas territoriais dos seus inimigos, resolveram investir diretamente contra os territórios soviéticos.
Os principais avanços nazistas se deram sobre os países bálticos, adentrando em antigas áreas eslavas como Bielo-Rússia e Ucrânia e, em julho de 1941 os alemãs mobilizaram grande contingente militar para as fronteiras da Rússia e deram inicio as batalha contra a URSS.
A propaganda alemã divulgava que suas tropas derrotavam importantes bases do exercito soviético e conquistavam importantes territórios russos. Eram questões de meses para a dominação nazista, mas aos poucos, os soviéticos foram cercando os batalhões nazistas, que tiveram que ceder as áreas conquistadas e recuar suas tropas.
Em 1941, com uma ataque japonês ao Havaí (Pearl Harbor), levou os USA a lançar tropas contra o Japão. Os Norte-Americanos foram forçados a mobilizar suas forças militares de Marinha e Aeronáutica, obrigando os japoneses a defenderem os territórios conquistados na Oceania e a defenderem suas posições em dezenas de ilhas já conquistas.
Na Europa Oriental, a medida em que os soviéticos obrigavam as tropas nazistas a se retirarem as áreas conquistadas, os russos iam convertendo esses territórios em governos provisórios pós-soviéticos, ampliando suas forças militares como novos aliados e despertando preocupação de potências como os Estados Unidos que até aquele momento, só lucrava com a 2ªGM.
Os soviéticos, que se fortaleciam ao derrotarem as tropas nazistas e fascistas dentro da Europa Oriental, contribuíram para que França e Reino Unido, reconquistassem áreas perdidas e ganhassem tempo para se reorganizar nos campos de batalha. Esse foi o time que os Estados Unidos esperavam para mover tropas para a Europa, arrastando consigo, alguns países das Américas como o Brasil.
A 2ªGM mundial teve um desfecho inesperado, pois os alemãs, italianos e japoneses, começaram a perder espaço e força, em uma guerra em que lideravam as conquistas territoriais com larga vantagem até 1942, mas em dois anos perderam força e estagnaram suas vantagens.
Daí para frente, com a entrada da URSS e dos USA, como aliados diretos dos franceses e britânicos, a correlação de forças mudou e em abril de 1945, o exercito vermelho cercou Berlim, em uma batalha que mobilizou milhões de soldados. Foi o confronto com o maior numero de mortos dos dois lados, até que Hitler se suicidou e os poucos alemãs que ainda lutavam, começaram a se reder e confirmar a derrota definitiva.
A 2ªGM foi o marco de sucessivas crises do imperialismo capitalista, mas a derrota do fascismo e do nazismo, deram um novo fôlego a potencias como Reino Unido, França e aliados. Mas os Estados Unidos que haviam ganhado muitos dólares com as duas grandes guerras mundiais, se tornaram a referência capitalista mundial, em especial, quando lançou dos bombas atômicas contra o Japão, iniciando um novo capitulo no cenário geopolítico internacional (SCHUMPETER, 1984).
Nesse momento, o dólar já era a moeda mais forte do mundo e os cenários de reconstrução dos destroços da guerra, se transformam em um excelente negócio para as grandes empresas americanas.
Por outro lado, os territórios libertados pelos soviéticos, foram se transformando em aliados do bloco socialista, o que era um grande incomodo para o imperialismo capitalista, mas não tinham o que fazer, pois novas tensões aquele momento, poderiam gerar novas situações conflitantes.
Os Estados Unidos aproveitaram os estragos feitos contra o Japão e ocuparam o país, instalando um monstrengo político, com a manutenção da família imperial e da realiza viva, mais sem muitos poderes e implantaram um parlamentarismo com um congresso e a figura de um primeiro ministro, que passou a atender as exigências de guerra dos americanos. Enquanto isso, foram tentando se instalar em territórios que estavam sob o domínio japonês, como Coreia, Vietnã, Filipinas, Indonésia, Laos, Camboja, entre outros (DAHL, 1997).
Mas, o que os Estados Unidos não queriam aconteceu, os chineses que lutaram bravamente contra os japoneses, ao termino da Guerra, iniciaram um movimente de independência do julgo britânico e uma guerra civil contra as elites dominantes que eram aliadas do ocidente.
A Revolução Socialista na China, implantou uma nova lógica política no Extremo Oriente, obrigando os Estados Unidos a redobrarem suas forças militares e pretensões expansionistas na região (SCHUMPETER, 1984).
Na Coreia as tropas americanas encontraram forte resistência do antigo imperador, vindas do Norte e com apoio soviético e chinês e no Vietnã tiveram a mesma resistência.
Na Coreia, os Estados Unidos conseguiram abocanhar a parte Sul, instalando um país pró americano, mas no Vietnã, apesar de ter tentado a mesma estratégia, não conseguiram, tendo que passar dez anos em uma Guerra que passou para a história como a pior investida geopolítica dos Estados Unidos, contra um pequeno e frágil país que enfrentou a maior potência capitalista, imperialista e militar do mundo pós 2ªGM (COHEN, 2009).
Para a Europa e seus aliados, os Norte-Americanos ofereceram grandes negócios, como a Criação de um Fundo Monetário Internacional (FMI) e a instalação de um Banco Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD).
Em troca, os países assinaram um tratado de exclusividade nas relações internacionais, com o dólar como a única moeda internacional em paridade com o ouro, para a conversão do comercio internacional. A dolarização da economia capitalista mundial, deus aos Estados Unidos e suas gigantescas empresas, o controle monetário internacional.
A URSS não reconheceu esse acordo e as bases para a "guerra fria" foram lançadas, também em escala econômica, pois o país que não seguissem esse acordo, não deveria entrar no comércio internacional (SCHUMPETER, 1984).
Para evitar que novos territórios saíssem dessa camisa de forças da dolarização, uma forte propaganda ideológica contra o Socialismo e/ou Comunismo foi lançada em todos os países e qualquer "ameaça comunista" em algum país era motivo para a instalação de uma Ditadura Militar.
Estas são as novas bases para o que chamamos de neocolonialismo monetário. A dolarização do comercio internacional, o endividamento dos países por empréstimos feitos pelo o FMI e BIRD; a expansão de empresas e marcas americanas para os países com ditaduras militares pró imperialismo americano fortaleceram ainda mais a dependência dos países, inclusive os europeus.
Agora, existiam quatro grandes dependências aos Estados Unidos: Econômica, Financeira, Tecnológica e Militar.
Países que flertassem com a URSS e a China Socialista, eram punidos com embargos econômicos, corte de empréstimos e todos os tipos de chantagens ideológicas, econômicas, culturais e políticas (SCHUMPETER, 1984).
A língua, a cultura cinematográfica, a religião anglicana (protestante) e o controle das elites nacionais, passaram a alimentar a ideia do sonho americano, pautado por uma crescente sociedade de consumo e acelerado processo de enriquecimento, geram a dominação e o controle do mundo.
Para Bonfim (2005), em artigo sobre geopolítica, trata sobre golpes e ditaduras na América Latina. Entre as décadas de 1950 até 1990, dezenas de países estiveram sob regimes militares e direta influência geopolítica e geoeconômica dos Estados Unidos. Ao longo destes 50 anos, se tornaram países endividados e presos a ideologia neocolonialista do imperialismo Norte-Americanos.
Empresas multinacionais, controle dos diferentes setores da economia destes países e completa dependência do dólar em suas transações, deram aos países a completa influência dos USA em todos os setores da vida econômica, social, politica e cultural pró Norte-Americanos.
A dependência economia passa pelas empresas e seus investimentos no país. A dependência financeira, se estabelece pelo endividamento externo e interno, tendo que seguir todas as regras do FMI em suas políticas econômicas, dependência tecnológica submeteu os países as tecnologias e aos produtos tecnológicos de empresas dos EUA.
A ideologia e o controle da lógica da sociedade de consumo americana, que leva as elites, classe média e até mesmo as pessoas pobres ao sonho de acesso as riquezas e maravilhas dos Estados Unidos.
Os países europeus por sua vez, também continuaram estabelecendo o controle sobre suas ex-colônias, dentro da África, Oriente Médio, Ásia e Oceania, dividindo com os Estados Unidos a hegemonia ou o controle político, econômico, social e cultural.
Através da língua e religiões implantadas, através da acordos comerciais com desvantagens para as ex-colônias e as limitações impostas, que sempre deixam os países dependentes e atrasados em vários setores da vida e das pessoas, diante de suas posições sociais e de classes.
Enquanto a pobreza e subdesenvolvimento atinge os mais pobres, as elites dos países pobres vivem as mil maravilhas do mundo e da cultura dos seus colonizadores, em uma cumplicidade vergonhosa.
Mas, segundo Caetano, "alguma coisa estar fora, fora da nova ordem mundial". Uma delas foi a grande ascensão do capitalismo chinês, com forte presença de empresas estatais e empresas privadas, acessando o mundo capitalista, através do processo de globalização e de neoliberalismo, que oportunizou os chineses a investir na compra de empresas estatais em diferentes países, assim como vender produtos bem mais baratos do que os dos seus concorrentes, além de produzir grandes avanços científicos e tecnológicos em todas as áreas da economia.
Mesmo assim, as disputas geopolíticas e de controle do mundo, ainda geram as mesmas tensões da 2ªGM e da Guerra Fria do mundo bipolar. Mesmo que a URSS não mais exista. Os conflitos na Europa Oriental e as ameaças diretas da OTAN aos russos, acendeu um sinal de alerta para o mundo.
O atual conflito entre russos e ucranianos a partir de 2021, gerou grandes tensões internacionais e as velhas estratégias de punição econômica contra os russos e chineses, não fez o mesmo efeito que faria em um país de forte dependência do dólar.
A China e a Rússia confrontaram diretamente o dólar e até certo ponto o Euro, no cenário do comercio internacional e a ideia de criar uma nova moeda a partir do BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), além de dezenas de países interessados em entrar nesse bloco geoeconômico, vem colocando em cheque as relações comerciais em dólar ou em Euro.
Com o conflito Ucrânia X Rússia X OTAN, as declarações de embargo econômico contra os russos, os obrigou a também pressionar os países dependentes de setores econômicos russos, como petróleo, gás e outros minérios a terem que comprar esses produtos em rubros que é a moeda russa.
Os chineses para se precaverem as artimanhas americanas e europeias, passou a atrair vários países a negociarem diretamente com o yan, que é a moeda chinesa. A crise política, geopolítica e econômica internamente nos Estados Unidos corroboram para uma desconfiança internacional dos negócios em dólar.
Não existe uma certeza política de uma mundo, tensionado por conflitos geopolíticos e geoeconômicos, mas podemos estar vivendo uma ruptura do clássico colonialismo monetário internacional.
Notas:
Cf. Adriana Calcanhoto, Esquadros. Senhas. São Paulo: BMG/Ariola, 1996.
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