O voto silencioso

imagem das redes sociais.

Por Belarmino Mariano

"O que me preocupa não é nem o grito dos corruptos, dos violentos, dos desonestos, dos sem caráter, dos sem ética... o que me preocupa é o silêncio dos bons." (Martin Luther King). Essa citação revela um lado da história, a preocupação com aqueles que se calavam diante da violência contra os negros da América. O ano era 1964 e King recebia o Prêmio Nobel da Paz mundial. Enquanto isso, a Cia americana financiava o Golpe Militar no Brasil e em dezenas de outros países da América Latina, silenciando as jovens democracias do Cone-Sul e a desculpa era conter uma suposta ameaça comunista.
O Silêncio é talvez uma das coisas mais raras para o atual mundo em que vivemos. Um mundo dos ruídos, do barulho, das diferentes arenas das comunicações, das imagens e sons estridentes. Somos diariamente consumidos pelas mídias impressas, de rádio, televisão e redes sociais de internet. O mundo em que  o principio básico é a comunicação, a fala, a linguagem, a argumentação e o poder dizer com todas as letras provavelmente terá pouco espaço para o silêncio. Mesmo assim, existe uma teima em silenciar ou acalmar a alma, diante do silêncio dos quase 700 mil mortos por covid-19 e, para o próximo domingo (2 de outubro de 2022).
Acho que essas eleições brasileiras nos preocupam também, pois temos cerca de 30% de pessoas que votam e apoiam o pior dos presidentes, pois carrega um misto de fascista, ditador, genocida e apoiador direto da destruição ambiental. Um falso cristão pois troca a paz e fraternidade, pelo ódio e a violência.
São muitos, logo, não podemos subestimar estes 30% pois neles está o pensamento e as ações desse opressor que se instalou no poder central do Brasil.
Mas ainda temos cerca de 15% de indecisos, brancos e nulos, além daqueles que não irão votar nestas eleições. 30%+15% temos 45%. Estes votantes, apesar de não se unirem, podem estragar o futuro do nosso país, assim como fizeram em 2018, pois todos/as estamos sentindo os efeitos de votos errados. De cara, perdemos direitos trabalhistas, direitos previdenciários, direitos de reajustes salariais de acordo com o PIB e a inflação, direitos de investimentos em saúde, educação, habitação e segurança, com o congelamento em 20 anos para essas áreas.
Para Confúcio "O silêncio é um amigo que nunca te traí". No mundo esotérico o pensador hindu OSHO, considerado o Guru dos novos tempos, nos diz que "O silêncio também fala, fala muito! o silêncio pode falar mesmo quando as palavras falham". 
Na verdade, existem milhares de reflexões sobre a ideia de silêncio, muitas de autores desconhecidos como: "Ignore, não ligue, não responda. O silêncio pode destruir qualquer um" e, "O silêncio responde até mesmo aquilo que não foi perguntado". Como podemos observar, o silêncio é uma possibilidade.

Agora vamos para o outro lado dessa história, notamos que em todos os estados brasileiros, milhões de brasileiros estão indo para as ruas, lutando por um novo e melhor futuro para todos/as, apostando na utopia ativa ou na esperança de dias melhores. Esse lado carrega as energias para votar no Lula & Alckmin 13. Uma aliança histórica que reúne dez partidos e centenas de movimentos dos que lutam pela Democracia. Em pesquisas espontâneas se fala em 53% dos eleitores, sem falarmos em candidaturas vacilantes, diante de ameaças reais de desgoverno em série.
O outro aspecto dessas eleições é vermos grandes carrões com bandeiras do Brasil e os adesivos do capiroto, enquanto em alguns carros populares, os adesivos do presidente Lula, mas não são muitos, pois existe um medo de violência e agressões, pois os conhecidos como bolsominios agem com ódio. Meu carro tá todo adesivado com Lula e não arrego pra fascistóides de plantão, mas respeito aqueles que estão evitando expor seu voto, afinal de contas, esse é um direito eleitoral.
Uma coisa é certa, quando saio para alguma atividade do nosso comitê de campanha do Lula e nossos deputados, senador e governador, que levo uma bandeira do Lula, mesmo sem adesivos em seus carros, as pessoas buzinam e sinalizam o apoio. Isso é um sinal de ruído silencioso, momentâneo e espontâneo.
Neste último sábado senti um frenesi nos olhos de moradores de nossa cidade Guarabira, pois nosso grupo esteve em uma das entradas do Mercado Público e da Feira Livre, distribuindo material de campanha. Sempre anunciávamos que era material do Lula e dos nossos candidatos. em média de cada 10 pessoas, 6 ou 7 reagiam positivamente, principalmente as mulheres e os homens jovens. Alguns homens adultos e velhos, resmungavam como ruminantes.
Outro sintoma interessante pude perceber na tardinha de sexta-feira, enquanto esperava minha filhar sair do inglês, fiquei assistindo homens jogando dominó na praça. Entre uma pedra e outras eles reagiam ao meu boné de Lula na cabeça. Era uma roda com uns 12 jogadores em lista de esperas.
Uns provocavam dizendo que era Bolsonaro e outros aproveitavam a provocação para desafiar os bolsonaristas as apostas. Um disse: "-Aposto 100 reais e dou 2 mil votos aqui em Guarabira e sou Lula". Outro aumentando a aposta disse: "-Sou Lula e dou 5 mil votos aqui em Guarabira", emendou dizendo, "_se quiserem apostar, sou Lula e dou 5 milhões de votos no Brasil". Não demorou e outro gritou, aposto mil reais no pau e sou Lula no primeiro turno". Nessas partidas de dominó, não apareceram bolsonaristas para bancar os desafios de apostas e silenciaram a conversa, pois ninguém estava querendo perder dinheiro.
O silêncio é um método de escolha, pois o exercício da democracia também pode ser praticado caladinho. Quando se trata de apostar, o lado do capiroto é quem se cala.
Enquanto isso, dentro de algumas igrejas evangélicas o barulho rouba a cena dominical. Mas, mesmo que alguns pastores tenham transformado seus templos em currais eleitorais, com alaridos e pregações, vários amigos evangélicos, me dizem no privado que não compactuam com isso. Alguns até se afastaram da sua congregação, pois ficou insuportável, ouvir políticos fazendo discursos e pedindo votos descaradamente.
Bruni (1989) faz uma importante analise sobre "O Silêncio dos Sujeitos", a partir de Foucault em sua reflexão que, "o silencio dos sujeitos, silêncio que é o primeiro e mais forte componente da situação de exclusão, a marca mais forte da impossibilidade de se considerar sujeito àquele a quem fala é de antemão desfigurada ou negada". O mais interessante é que estamos a refletir sobre a exclusão,  em que o autor destaca como o lugar mais profundo da sujeição, estigmatização, discriminação, marginalização e confinamento. Essa ideia vale para os sem voz, ou aqueles que são impedidos de falar e são silenciados pelo poder dos que podem argumentar em benefício próprio.
No Nordeste a democracia tá se vestindo de vermelho frevo, de muito axé e até de forró fora de época, pois das cidades grandes por onde Lula passa ou pequenas em que ele não alcançou com os pés, a onda avermelhada e barulhenta toma conta da cena urbana, mas a grande maioria continua silenciosa, como fogo de monturo, com pouca fumaça no ar. No Norte, até já barcaças, batuques, bumba meu boi e carimbo na onda vermelha. Mas também existe um silêncio profundo como as águas do grande rio. No sudeste a onda vermelha já tomou conta das grandes capitais, mas no interior o silêncio e a calma prevalecem e vão se manifestar no primeiro domingo de outubro. Me surpreende o barulho rosado das ruas do Sul  e do Centro-Oeste, mesmo sabendo que o conservadorismo prevalece e tenta fazer barulho. Mas daí poderemos ter a grande surpresa, pois gaúchos, paranaenses e catarinenses podem virar esse jogo apostando em um futuro melhor para todos/as e já no primeiro turno, elevarem o campo democrático.
Nas redes sociais, vale destacar que a justiça eleitoral e o STF, em tempo conseguiu silenciar milhares de contas golpistas que reproduziam todos os tipos de fake news, obrigando os bolsonaristas a ficarem cada vez mais restritos as suas bolhas. Mesmo assim, sempre chega uma fake em nossas contas, mas não com a mesma força de 2018. Algumas redes sociais travaram as mensagens de cunho político, outras como o Tik Tok se tornaram avalanches vermelhas com milhões de pequenas contas registrando o vendaval de candidaturas que apoiam lula em todo o país e até mesmo fora do Brasil. Vi um vídeo de Paris com um monte de gente cantando LULA Lá. Dessa vez o Ciro não terá sossego nem em Paris.
Só falta um domingo para elegermos Luiz Inácio Lula da Silva, já no primeiro turno e seus candidatos do campo da esquerda: Deputado Federal, Deputado Estadual, Senador, Governador e presidente. Essa é a ordem. Vamos no Silêncio e na Paz, escolher nossos melhores candidatos e candidatas. O voto é uma manifestação democrática e pode sim, ser exercido em silêncio, apertando a tecla verdinha cinco vezes e ouvindo apenas aquele barulhinho de confirma (sonoridade também para eleitores cegos).


* Belarmino Mariano Neto - Doutor em Sociologia (UFPB/UFCG), Mestre em Meio Ambiente (PRODEMA/UFPB/UEPB) e Geógrafo (UFPB). Professor de Teoria da Geografia e Geopolítica pela UEPB.

FONTES DE PESQUISA:

BRUNI, Jose Carlos. Foucault: O Silencio dos Sujeitos. Tempo Social - Revista Sociologia. USP, São Paulo, 1989. <http://lidibalbinot.blogspot.com.br/2013/08/o-silencio-do-sujeito.html> acesso em 20/05/207, as 12:43 hs.

https://jus.com.br/artigos/45663/a-contribuicao-dos-sofistas-para-a-democracia-grega


http://noblat.oglobo.globo.com/meus-textos/noticia/2017/05/por-que-o-silencio-de-eduardo-cunha-custa-tao-caro.htm


https://pensador.uol.com.br/autor/martin_luther_king/biografia/

lhttps://pensador.uol.com.br/frase/NDg1MjYy/

http://guarabira50graus.blogspot.com/2017/05/brasil-o-preco-do-silencio.html#more

Comentários

MAIS POPULARES

MEIO AMBIENTE E ECOLOGIA POLÍTICA: 40 anos de (des)encontros ambientais em um capitalismo predatório.

GEOPOLÍTICA OU GLOBALIZAÇÃO INTERROMPIDA?

É Possível Simplificar a Dialética de Marx?

Geopolítica - 75 anos de Guerra entre Israel e Palestina

AGASSIZ ALMEIDA - A Difícil Despedida de um Revolucionário.

BIOGEOGRAFIA: O JUMENTO É UM MITO

A Destruição dos Cultivos de Oliveiras por Soldados e Colonos de Israel é o mesmo que arrancar a Alma e o Coração do Peito dos Camponeses Palestinos.

Zema, não será xenofobia e separatismo fascista que quebrará o Brasil.

Palestina na Idade das Trevas

Paradoxos bíblicos do Velho Testamento