Geopolítica: Brasil em meio aos conflitos dos Estados Unidos contra o Irã
Extraída das redes sociais. Foto: Atta Kenare / AFP / CP. |
Por Belarmino Mariano*
Dois navios de bandeira iraniana encontram-se em águas brasileiras, sem poder abastecer para seguir viagem com produtos brasileiros para o Irã. Enquanto isso, justiça brasileira e a Petrobras batem cabeças e criam um embrolho diplomático inesperado com uma das maiores potencias do Oriente Médio e o importante parceiro comercial com o Brasil.
De acordo com balanço econômico do Ministério de Desenvolvimento Industria e Comércio (MDIC/GOV, 2019), as atuais relações comerciais do Irã com o Brasil, em 2018, representou mais de 2,2 bilhões de dólares, com superavit de 80% para a economia brasileira, em que o Brasil vendeu mais que comprou, em especial, os produtos agropecuários, como milho, soja, cana-de-açúcar e carnes.
De acordo com o Correio do Povo (RS, 2019), existem mais dois navios para atracar em porto brasileiro e que já se encontram em águas do Brasil, aumentando ainda mais a tensão sobre o que poderá acontecer com estas quatro embarcações, suas mercadorias e a posição do governo Jair Bolsonaro diante desse problema internacional.
Para a Agência Brasil (EBC, 2019), os dois navios iranianos se encontram estacionados na baía do porto paranaense desde o início de junho, aguardando apenas o abastecimento que deveria ser feito pela Petrobrás, para seguir viagem. Um já com sua carga de 48 mil toneladas de milho brasileiro e o outro que se dirigia para o porto de Imbituba (SC) para receber sua carga.
Diante do cenário internacional e do embargo econômico imposto ao Irã pelo presidente americano Donald Trump, as tensões geopolíticas estão a "flor da pele", desde que o governo americano abandonou o acordo nuclear de Teerã (2018) e passou a impor sanções econômicas contra o Irã. Mas o que tem o governo brasileiro com esse conflito? Mesmo sabendo que essa política prejudica as nossas relações comerciais, podendo causar forte prejuízos aos empresários brasileiros, Jair Bolsonaro, simplesmente empurrou o problema para a frente e teima em não dá uma solução imediata ao impasse, que seria o de simplesmente autorizar a estatal a abastecer os navios que estão carregados com alimentos de empresários brasileiros e que são perecíveis e livres de embargos. Ao se furtar em solucionar o problema, o governo brasileiro, também embarga os produtos do Brasil, além do mais, esse ato poderá representar represálias futuras para o Brasil em relação ao Irã, como já esta acontecendo com a Inglaterra, por reter um petroleiro iraniano no mediterrâneo, teve recentemente dois navios petroleiros, também retidos pelo governo de Teerã.
O governo brasileiro, em se tratando de geopolítica internacional, navega por águas turvas e escuras, deixando de lado seus reais interesses, para se subordinar aos esquemas e estratégias geopolíticas Norte-Americanas, que na verdade, são também econômicas. Com uma grande diferença, o Brasil, em se tratando de poder militar para uma possível resposta internacional, que precise defender nossa marinha mercante, poderá ser desastrosa. Sem falarmos, nas possíveis perdas comerciais com o Oriente Médio, mercado extremamente disputado e difícil de ser conquistado ou reconquistado.
Em se tratando das questões geoestratégicas atuais, podemos dizer que o Brasil postergou uma simples decisão em abastecer os navios iranianos há quase um mês, inclusive com liminar favorável ao abastecimento. Isso significa dizer que a Petrobras já não atende mais aos ditames do governo brasileiro? Que a Petrobras alegou medo de sansões americanas, caso abastecesse os navios iranianos? Não estamos diante de impasses reais, pois os navios carregam produtos alimentares e/ou mercadorias brasileiras vendidas para empresas iranianas. Então, antes de mais nada, seria obrigação do nosso governo e do próprio Estado Brasileiro, defender a nossa soberania de águas, de portos e de produtos comercializados com parceiros internacionais.
Foi noticiado em todo o mundo que o Irã capturou dois navio petroleiros britânicos que seguiam para o golfo de Ormuz e que foram desviados para águas iranianas. O impasse gerou tensão em todo o mundo e pode se desdobrar em uma clara situação de guerra. Em meio a esse clima de tensões, as autoridades dos EUA e do Irã trocam ameaças e falam em abate de um drone, informações controversas, mas que aquecem o conflito entre Estados Unidos, Inglaterra e Irã.
Dito isso, basta-nos lembrarmos que o Brasil sempre foi um país pacificador, buscador das concórdias, estabelecendo relações amistosas e de parceria entre as nações. Ninguém aqui quer negar a importante relação diplomática do Brasil com os EUA e com a Inglaterra, mas também com o Irã. A partir do momento em que o Brasil se posiciona para um dos lados, terá que aguentar as consequências de sua decisão.
As declarações do presidente Jair Bolsonaro, em relação ao abastecimento dos dois navios iranianos em águas brasileiras e com nossos produtos, foi claramente de subserviência aos ditames americanos. Nesse caso, deixou os empresários brasileiros entregues a própria sorte e a deriva, pois a justiça do Paraná já havia tomado a decisão em abastecer os navios para que seguissem viagem, mas a Petrobras recorreu ao STF e aguarda uma decisão final. O Brasil, em detrimento dos interesses comerciais seus, pode esta se curvando ao jogo geopolítico e geoeconômico americano e esse poderá ser um caminho sem volta, com graves e imprevisíveis consequências para o país como um todo.
* Prof. Dr. Belarmino Mariano Neto, Mestre em Meio Ambiente, Doutor em Sociologia pela UFPB/UFCG. Professor do Departamento de Geografia da UEPB, lecionando as disciplinas de Teoria da Geografia, Geografia Política e Geopolítica.
Fontes:
https://veja.abril.com.br/mundo/ira-captura-petroleiro-britanico-e-diz-que-eua-abateram-seu-proprio-drone/
https://www.correiodopovo.com.br/not%C3%ADcias/mundo/quatro-navios-do-ir%C3%A3-sancionados-pelos-eua-est%C3%A3o-na-costa-do-brasil-1.352871
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