Eleições 2020 - Avanços e Recuos da Esquerda no Brasil
Legenda: Fragmentos do Tempo |
Por Belarmino Mariano Neto
Quando falamos nas lutas e apoio aos movimentos sociais e até mesmo no parlamento, existem convergências destas forças, mas quando o assunto é político eleitoral, as esquerdas parece que se cegam para uma unidade de esquerda, capaz de frear os avanços de grupos e tendências conservadoras no controle político dos municípios, estados e até o próprio governo federal.
As esquerdas se enganam com esse modelo política de reeleição e eleições dois turnos e em eleições municipais mais ainda, pois muitos partidos montam suas estratégias, apostando em levar sua candidatura para o segundo turno, criando uma fragmentação política e perdendo espaço de unidade ideológica em torno um projeto democrático e popular para além dos interesses individuais.
Nos municípios menores, ocorre o contrário, pois os partidos de centro esquerda e da esquerda flexível se alia com todos os tipos de partidos e candidatos, destruindo a possibilidade de construção política em médio longo prazo. Na maioria das vezes a esquerda, não apresenta nomes ou quadros representativos para as disputas municipais em pequenas e médias cidades com menos de 200 mil eleitores, pois a eleição é apenas em um turno.
Dito isso vamos observar que da eleição de 2016, depois do golpe contra a presidenta Dilma Rousseff (PT) para a eleição de 2020, os partidos de esquerda perderam significativos espaços políticos em escala nacional, com exceção do Maranhão, onde o PCdoB elegeu 22 prefeitos; PDT elegeu 40 prefeitos; PSB elegeu 06 prefeitos e PT elegeu 01 prefeito. No geral todas estas legendas perderam significativas prefeituras em todo o Brasil (G1 - Eleições no Maranhão).
Ainda não temos um quadro completo em nível nacional, pois ainda faltam as eleições no Estado do Amapá, atingido por apagões elétricos e algumas capitais e municípios com eleições em que a esquerda tem fortes nomes para o segundo turno. Aos exemplos de São Paulo com Guilherme Boulos (PSOL) contra Covas (PSDB); Porto Alegre com Manuela D´ávila (PCdoB) contra Sebastião Melo (MDB); Espirito Santo com João Coser (PT) contra o Delegado Pazolini (Repúblicanos); Belém com Edimilson Rodrigues (PSOL) contra o Delegado Federal Eguchi (Patriotas); Recife com dois candidatos da Esquerda, Marília Arraes (PT) contra João Campos (PSB).
Além desta disputa na capital paulista, existe mais 14 municípios com segundo turno e a esquerda disputa em apenas 04: Diadema - disputa entre Filippi (PT) e Taka Yamaucho (PSD). Guarulhos - disputa entre Gustavo Henric Costa - Guti (PSD) e Elói Pietá (PT). Mauá - disputa entre Atila (PSB) e Marcelo Oliveira (PT). Ribeirão Preto - disputa entre os candidatos Duarte Nogueira (PSDB) e Suely Vilela (PSB)(Agenciabrasil)
Em todo o país dos 57 municípios com segundo turno, os partidos da Esquerda disputam em 40 e o PT disputa em 15 destes; O PT continua na disputa no Recife (PE), com Marília Arraes; em São Gonçalo (RJ), com Dimas Gadelha; em Caxias do Sul (RS), com Pepe Vargas; em Santarém (PA), com Maria Lima; em Cariacica (ES), com Celia Tavares (PT); em Contagem (MG), com Marília Campos; em Guarulhos (SP), com Elói Pietá; em Feira de Santana (BA), com Zé Neto; em Juiz de Fora (MG), com Margarida Salomão; em Diadema (SP), com Filippi; em Anápolis (GO), com Antônio Gomide; em Pelotas (RS), com Ivan Duarte; em Vitória da Conquista (BA), com Zé Raimundo; em Mauá (SP), com Marcelo Oliveira; e em Vitória (ES), com João Coser (brasildefato).
Mesmo considerando que a esquerda ainda esteja na disputa em grandes centros do país como São Paulo (PSOL), Porto Alegre (PCdoB), Recife (PT x PSB), Fortaleza (PDT), Belém (PSOL), Aracajú (PDT), Maceió (PSB), Boa Vista (PDT), Rio Branco (PSB), Anápolis (GO - PT), Campos dos Goytacazes (RJ - PDT), Cariacica (ES - PT), Caxias do Sul (RS - PT), Contagem (MG - PT), Diadema (SP - PT), Feira de Santana (BA - PT), Guarulhos (SP - PT), Juiz de Fora (MG - PT x PSB), Mauá (SP - PT x PSB), Paulista (PE - PSB), Pelotas (RS - PT), Petrópolis (RJ - PSB), Santarém (PA - PT), São Gonçalo (RJ - PT), Serra (ES - PDT x REDE), Vitória da Conquista (BA - PT) e Vitória (ES - PT). Como estas áreas são muito grandes, com mais de 200 mil eleitores, chegando a milhões, os números finais poderão redefinir ou reposicionar os partidos de esquerda ainda com muita força, mas a falta de unidade também é um indicativo de que estas cidades e até as outras em que os partidos do Centrão e da Direita levaram vantagens (TSE/JUS).
Quando a esquerda deixou de ir ao segundo turno em várias capitais e perdeu no primeiro turno em milhares de outros centros urbanos significativos desse país, podemos dizer que faltou a construção de uma Frente de Esquerda, muito bem montada, para as disputas desse importante espaço de poder que a prefeitura, espaço para a execução de políticas públicas tão necessárias ao povo mais pobre.
Até o momento, os números indicam que as perdas foram muito significativas e exigem uma profunda avaliação e autocrítica dos dirigentes partidários em relação as futuras eleições e a própria organização destes partidos para atuarem em uma Frente de Esquerda com vistas a unificação e fortalecimento interno, para se reposicionar tanto nos cenários locais e regionais, quanto no cenário nacional.
Em números comparativos com a eleição de 2016 temos: PT tinha 254 prefeituras e caiu para 189 (perda de 65), o PDT tinha 331 prefeituras e caiu para 311 (perda de 20); o PSB tinha 403 prefeituras e caiu para 251 (perda de 152); PCdoB tinha 80 prefeituras e caiu para 46 (perda de 34); Rede Sust. tinha 6 e manteve. o PSOL tinha 02 e agora tem 05.
Os partidos de Direita como o MDB foi o que mais elegeu prefeitos mas perdeu muito, pois tinha 1.035 prefeituras e só elegeu 774 prefeitos (perda de 261). O PSDB que tinha 782 prefeitos caiu para 497 prefeitos (perda de 295). Esse quadro também é um demonstrativo de que os partidos tradicionais de direita, também perderam muito espaço na política municipal.
Por outro lado, os partidos ditos do Centrão fizeram o maior numero de prefeitos do país ao exemplo do PP que tinha 495 e pulou para 682 (Cresceu 197); O PSD que tinha 537 prefeitos pulou para 650 (cresceu 113); o DEM que tinha 266 pulou para 459 (cresceu 193), nessa esteira temos o PL com 338 prefeitos, Republicanos - 209, PTB - 212, Cidadania com 139 prefeitos; PSC - 115, PODE - 96, SD - 95, PSL 87, AVANTE - 81, PATRIOTAS - 48, PV - 45, PROS - 41, PMN - 13, DC - 01, PTC -01 e NOVO com 01 prefeito.
Esse quadro ainda sofrerá mudanças pois temos o segundo turno e a eleição no Amapá. Os partidos do Centrão investiram pesado na região Nordeste, O MDB se manteve forte no Sul do Brasil e o PSDB na Região Sudeste que é o maior colégio eleitoral do país. (Veja tabela do G1 eleições 2020):
Fonte: G1 Eleições 2020 |
Até o momento, podemos afirmar que o conhecido com “Centrão”, saiu muito fortalecido da eleição, se aproveitando do governo federal, mas afastados do discurso bolsonarista, se aproveitando dos grandes esquemas de empreiteiras, do agronegócio e do loteamento de cargos, ampliou em muito a sua base municipal, que terá forte reflexo nas eleições de 2022. Com destaque para o DEM, PP e PSD, seguidos de uma grande quantidade de outros partidos fisiologistas ou legendas de aluguel e loteamento de cargos.
Vejamos o que aconteceu na Cidade do Rio de Janeiro, onde o PDT, PSB e Rede fizeram uma aliança, enquanto o PT, PCdoB, PSOL e outros seguiram na direção oposta. Deixaram ir para o segundo turno, dois candidatos de Direita, corruptos e conservadores, como Eduardo Paes (DEM) e o Pastor Crivella (Republicanos). Se a esquerda estive unida no Rio de Janeiro como propôs o Deputado Federal Marcelo Freixo (PSOL) que chegou a retirar sua candidatura, com certeza estaríamos no Segundo Turno.
O mesmo poderia ter ocorrido em São Paulo e em Porto Alegre. Pois a esquerda chegou ao segundo turno nestas capitais com dificuldades. pois em São Paulo, o atual prefeito só chegou ao segundo turno porque já havia reunido em sua campanha, uma Chapa composta por quase 20 partidos. Outra tragédia política já alertada (Esquerda Dividada) foi a situação de João Pessoa, onde a esquerda dividida abriu espaço para que, dois candidatos de direita extrema com Cicero Lucena (PP) e Nilvan Freire (MDB) chegassem ao segundo turno. No Brasil inteiro, basca fazer um rápida busca e encontraremos exemplos semelhantes e com um agravante, muitos casos definidos diretamente no primeiro turno.
Não podemos negar que ainda existem cerca de 40 municípios, inclusive os maiores do Brasil, como São Paulo e Porto Alegre em que as esquerdas estão nas disputas, mas em todas, chegamos com dificuldades, desgastados pelos embates, inclusive dentro do mesmo campo, como em Recife, Juiz de Fora, Mauá, entre tantas outras em que a direita já liquidou a fatura eleitoral ou teremos duas candidaturas de direita ou extrema direita na disputa.
Para as esquerdas só existe uma saída, essa é por uma unidade de esquerda, inclusive com a fusão de partidos e a criação de uma sigla nacional capaz de apresentar um PROGRAMA NACIONAL DEMOCRÁTICO E POPULAR. Esse movimento que já ocorre na Europa em países como Portugal, Espanha, França, Alemanha, entre outros países, precisam chegar ao Brasil e com Urgência. Do contrário perderemos espaço de ação política por dentro da sociedade que acena para o conservadorismo e para as perdas de direitos sociais historicamente conquistados. Acho que o PT, PDT, PSB, PCdoB, PSOL, REDE, alas do PV, PSTU, PCB, UP, PCO precisam chegar a um denominador comum, pois do contrário sucumbiremos aos ditames da extrema direita e o seu nazi-fascismo antidemocrático.
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