"Confidência de uma Velha Tatuagem Humana Sobre Seu Capital Inicial"*

 

Fragmentos distorcidos de imagem das redes sociais.

Por Belarmino Mariano.

Fui mulher de bandido mesmo! Esses puritanos são muito idiotas, nem imaginam os crimes que já cometi para atender as necessidades dos meus clientes. Eu botei minhas filhas, sobrinhas, netas e vizinhas no negócio do "sexo, droga e rock in rool", e só oferecia coisa boa, eu trafiquei coca, maconha, e outros ilícitos. Mas o que dava grana mesmo, eram as garotas de 15 a 17 anos. Eu não tive oportunidade, mas algumas das minhas garotas chegaram a ser assessoras de deputados e até esposas.

Eu fazia o serviço sujo, só para colocá-las nas grandes rodas dos políticos de Brasília. Lá dentro algumas viravam assessoras de deputados, mas o serviço era foder mesmo, além do leva e traz do que eles precisavam para suas orgias. A orientação era ficar com quem desse mais dinheiro, mas alguns, as vezes queriam exclusividade e camuflagem total, então que pagassem, pois nossas mercadorias eram das boas.

Hoje sou uma velha combalida, sem forças e continuo na favela. Como em todos os lugares aqui o sol nasce para todos. Algumas das minhas garotas, hoje vivem bem, moram em mansões, escondem a filharada de gravidez indesejada e algumas até casaram com deputados e viraram "cidadãs de bem", cristãs, mas aquelas cristãs que só pensam em dinheiro.

Não vou negar, também coloquei garotos nessas orgias, pois alguns velhos políticos tinham preferência por meninos, esses em muitos casos viraram "cupinchas" e assessores parlamentares também desses velhos que guardam suas esposas e sua família tradicional nos estados de origem. 

Hoje em dia esses garotos são solteirons e moram em apartamentos de luxo, até parece que nem se lembram mais da vida na periferia de Brasília. Ostentam em carros oficiais e cargos em ministérios. Sofreram mas se deram bem, enquanto eu virei essa velha tatuagem de rugas e véias expostas.

Eu estou aqui, vivendo de uma miserável aposentadoria e dependendo do SUS para curar as minhas feridas. Elas acham que não vejo TV, mas eu vejo sim, "tô vendo tudo, tô vendo tudo, mas fico calada, faz de conta que tô muda."
Minha memória é fraca, mas o que eu lembro é isso e não me arrependo do que fiz, pois era pra ganhar o pão em um tempo de cão.

Lembro que uma vez fui a uma dessas festas, como ajudante de cozinha. Vi "cenas de horror tão fortes". Velhos políticos metidos a machões que, depois de umas doses de whisky e uma cheirada de pó, caíam de boca nas carnes virgens de garotas e rapazes assustado(a)s, uns canibalistas de jovens corpos nus em troca de dinheiro e comida.

Aquilo me assustou e ainda me assombra em noites de insônia, mas era parte do meu negócio, era minha grana que estava em jogo. Tinha que comprar o pão e o leite para minha neta ingrata e minha bisneta, que hoje em dia fingem que não existo.

Fui presa por tráfico, paguei três anos de pena e, na cadeia entrei prá um esquema de ser crente, de aceitar Jesus pra diminuir o tempo de cadeia. Aí me tornei evangélica e com o tempo já estava em esquemas muito maiores.


Mesmo do presídio, botei minhas filhas e netas no negócio e esse tempo, políticos safadso faziam orgias nos apartamentos do congresso.
Depois que saí das grades, fiquei com o esquema das meninas e dos meninos da periferia. Entre 15 e 17 anos era a preferência dos clientes. Era cocaína, Viagra e prótese peniana pra todo lado. Ao som do Legião Urbana, "Que país é esse, nas favelas e no Senado, sujeira pra todo lado, ninguém respeita a Constituição". Eu vendia drogas e conseguia garotas pra fazer programas, eu era a tia delas. O esquema era doido demais. 

Nas ruas eu vendia crack, pacotinhos de merla e cocaína de segunda. Eu ia direto pras bocadas e num tinha essa de não fazer o serviço. Isso foi o meu Capital Inicial.

Nos anos 1980 e 90, aqui no Distrito Federal, a gente fazia as coisas ao som do rock pesado. Legião Urbana e Capital Inicial dava o ritmo das nossas vendas. Os velhos políticos viviam em "um faroeste caboclo" e a juventude pobre e periférica era alvo fácil.

Era assim mesmo, "das favelas ao senado, tinha sujeira pra todo lado". Naquele tempo era Rock e parece até que os caras cantavam nossas vidas. Hoje é o Sertanejo cantando cangalha, traições e prostituição. Você vê que o esquema é o mesmo. Mas agora eles cantam com apoio da bancada do boi e do agronegócio e as festinhas agora são no ritmo dos sertanejos. Esses entendem melhor do que os roqueiros dos anos 90, pois "das favelas ao senado tem cangalha pra todo lado".

Hoje em dia sou uma velha fora da lei e fora de circulação, mas temos outras tias atuando no mercado de jovens pobres para servir aos políticos do planalto central, pois eles gostam de carne nova, eles usam o dinheiro dos seus cargos pra comer gente nova e em dinheiro vivo. Esse continua sendo um grande negócio, das assediadoras de menores até as barras de cocaína, pagas em barras de ouro.

Eu sou ré confessa, até tentei escapar das grades, subordinei agentes, virei crente e paguei minha pena de três anos. Mas sempre me senti injustiçada e nunca abri meu bico, pois sabia que meu povo lá fora ia pagar com a própria vida.

Assim que saí das grades continuei atuando, fiquei nas entocas e nas bocas da favela, pra não dá na vista da policia, pois ninguém vive nesse inferno quente e seco, sem grana. "Se um dia eu pudesse vê meu passado inteiro, se fizesse parar de chover nos primeiros erros(CI**)", acho que até me arrependeria. Mas hoje, sou uma velha abandonada até mesmo pela minha família, principalmente aquelas que ajudei a criar com meu Capital Inicial.
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*Peça de ficção urbana. Cuidado com as drogas e com a ilusão de uma vida fácil, em muitos, existe abuso sexual de adolescentes e jovens.
** Banda de Rock Nacional Capital Inicial.
Fonte da imagem: https://www.pikist.com/free-photo-xewee/pt

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