Geografia Política, Municipalismo e Poder Local.


Por Belarmino Mariano.

Passadas as eleições municipais de 2024,  todos os tipos de análises já foram feitas, seja de esquerda, centro esquerda, direita, centro direita e extrema direita, muitos avaliam que a Extrema Direita foi derrotada e a Esquerda, com um baixo crescimento, ficou estagnada, enquanto a Centro Direita e a Direita, se saíram muito bem ao ampliarem o controle dos municípios e dos eleitores, em especial nos grandes centro e nas capitais dos Estados.

Eleições municipais são muito diferentes de Eleições Nacionais e até certo ponto, regionais ou estaduais, muito mais reativas as demandas locais e internas aos municípios e suas áreas urbanas e rurais. O poder local e as identidades socioculturais e econômicas tem muito peso, além do sentimento de lideranças comunitárias.

Quando analisamos um período histórico das últimas duas décadas, veremos que os grupos ou partidos de direita, sempre levaram grande vantagem sobre partidos de esquerda e centro esquerda. Pois essa tradição de esquerda no Brasil, ainda é uma experiência muito recente.

Se pensarmos isso ao longo dos séculos, a presença de partidos de esquerda nestas esferas de poder nem aparecem em estatísticas, pois as elites urbanas e as oligarquias rurais sempre estiveram no controle político territorial das pequenas, médias e grandes escalas de poder político e econômico.

As experiências republicana e partidária com a opção de diferentes legendas no campo da esquerda é algo experimendo basicamente no século XX, lembrando que durante esse século, o país viveu várias decadas de ditaduras e intervencionismo político, em que os partidos de esquerda eram colocadis na ilegalidade e na clandestinidade.

Antes dessas duas décadas do século XXI, o Brasil ainda estava vivendo a transição da Ditadura Militar para a reabertura política e redemocratização do Brasil, sem esquecermos que durante os 21 anos de ditadura militar (1964-1985), existia uma violenta centralização do poder político militar federativo, da frágil organização do poder político municipalista e dos governadores biônicos, ou escolhidos indiretamente pelos generais.

O outro fator limitador era a grande ilegalidade dos partidos de esquerda e centro esquerda e a estrutura do bipartidarismo (ARENA, MDB), com apenas dois partidos e ambos submetidos a ditadura militar.

Os prefeitos eram escolhidos entre os grupos oligárquicos, sempre comprometidos com a direita, centro e extrema direita golpista (filiados à ARENA ou MDB). A lealdade desses grupos políticos a ditadura militar era muito forte e rsros eram os líderes locais que se opunham aos desmandos dos generais. 

Durante a Ditadura Militar, muitas lideranças de esquerda foram assassinadas, presas e desaparecidas nos porões da Ditadura e os poucos que escaparam tiveram que se exilar em outros países. 

Com o fim da Ditadura militar (1985), reabertura política e a Constituinte de 1988, tivemos alguns avanços no projeto municipalista. Também ressurgiram alguns partidos de centro e esquerda (PSB, PCdoB, PDT) e se formou o PT e o PSDB. 

Mas o poder político municipal, até certo ponto, continuou no comando dos grupos de direita e centro direita, pois com a reabertura explodiu uma gama com dezenas de partidos de direita que mudaram a sigla, mais os ideais eram os mesmos.
As mais de 30 legendas de hoje, principalmente da direita, se fossem observadas em dez anos atrás,  seriam muito diferentes, pois muitos partidos mudaram de nome, se fundiram ou simplesmente desapareceram, com muitas de suas lideranças, diretamente envolvidascem gigantescos esquemas de corrupção.

Essa situação nunca mudou. E mesmo com a redemocratização e com o ressurgimento de dezenas de partidos, quase todos de direita, esse quadro da direita no controle dos municípios, sempre foi muito forte. Quando as legendas estão muito desgastadas, os líderes só mudam a nomenclatura do partido e continuam no poder. Essa é uma prática muito comum sos partidos de Direita.

Os partidos de esquerda, geralmente, geralmente se dividem e dão origem a novas legendas, apesar de observarmos poucos partidos de esquerda, centro esquerdace extrema esquerda.

Partidos e Eleições municipais 2024

Concluído o pleito eleitoral 202, os atuais resultados eleitorais dos municípios, pouco ou em quase nada foram alterados ou representas algumas surpresas. Pois os grupos políticos mais a direita mantiveram o forte controle político dos municípios.

O que temos como novidades? Poderemos questionar, até que ponto as esquerdas, poderiam mudar esse jogo político do poder local? Claro que as esquerdas sempre sofrem constantes e fortes ameaças às suas bases políticas. Pois o poder dos meios de comunicação em defesa da direita são muito fortes.

Os ataques mais violentos dis meios de comunicação ocorreram com a derrubada do segundo governo Dilma Rousseff (2015-2016),  com a prisão do ex-presidente Lula e com a destruição midiática da imagem do PT e partidos historicamente alinhados.

Claro que houve uma pequena mudança no desenho político das esquerdas com a chegada do Presidente Lula ao poder, em uma aliança de centro esquerda e até centro direita como o PMDB e outros a partir de 2002.  Mas o real reflexo desse jogo, foram sentidos basicamente a partir de 2008.

Com dados do TSE, os partidos de esquerda entre 2008 e 2012, chegaram a eleger cerca de 1.340 prefeitos: (PT, 554) +(PDT, 355) + (PSB, 393) + (PCdoB, 38). Esse é o maior dado histórico das esquerdas, depois da redemocratização do Brasil, duas  década depois. Esse período culminou com os dois primeiros governos Lula.

Mesmo assim, os partidos de direita e de centro direita, continuaram controlando mais de 4 mil prefeituras, inclusive nos grandes centros urbanos e capitais. Como alguns desses partidos mudaram de nome e até se fundiram, não temos como fechar essaa contas, mas destacamos (PMDB, PSDB, Republicanos, União Brasil, PSD, Republicanos, PRD, PP, PL e outros).

Quatro anos depois, em 2012, varios partidos de direita e centro direita, se uniram, se fundiram, mas as esquerdas tiveram um pequeno aumento de 1.349 prefeitos para  1.735, ampliaram o número de prefeitos, mesmo assim, eram minorias.

A direita ao longo dos séculos, sempre continuou com grande maioria de prefeituras e a única coisa que se alterou foi o nome dos partidos e a fusão de alguns como o PTB que se fundiu com o Patriotas, além de outos nomes ou siglas, como Democratas e outros que mudaram de nome.

Entre as eleições municipais de 2016 e 2020, com o golpe contra a presidenta Dilma, prisão do Lula e forte perseguição às esquerdas, ocorreu uma grande redução no número de prefeituras esquerdistas, caindo de 1.735 para 812 prefeituras.

O pequeno aumento no número de prefeituras de esquerda em 2024, estão vinculadas basicamente ao PSB e ao PT, 734, mas no computo geral, o PDT perdeu mais da metade dos seus prefeitos e isso representou uma pequena queda no quadro geral, com grande aumento na conta dos partidos de Direita, Centro Direita e até da Extrema Direita.

Mesmo assim, as estatísticas apontam uma repetição do poder político local, ainda muito articulado a famílias políticas tradicionais, em muitos casos, vinculados aos partidos da direita e forte influência dos recursos públicos (fundo partidário, emendas secretas, emendas pix e grande investimento privado nestas candidaturas),  garantem o grande número de eleitos no campo da direita.

O grande desafio para os partidos de esquerda será a capacidade de mudar essa realidade política municipal, coisa muito difícil, em um mundo de fundamentalismo, cheio de fakes news e muito capital financeiro, além da ideologia anti esquerda que impedem muita gente de perceber quem de fato luta pelos seus direitos.

Quanto ao lançamento de candidaturas em 2024, de acordo com dados do TSE, sistematizados pelo Poder 360, os partidos lançaram cerca de 15.573 candidaturas, sendo as esquerdas lançaram poucos candidatos, se comparados com a direita, juntos, PT, PCdoB, PSB, PSOL, PDT e outros tivemos de extrema esquerda: (PT, 1.412); (PSB, 890); (PDT, 629); (PSOL, 210);  (PCdoB, 61); (PCO, 43 ); (PSTU, 37); (UP, 22) e; (PCB, 9). Somadas as candidaturas da esquerda e extrema esquerda, tivemos 3.518 candidatos, contra 12.055  dos partidos de Direita, Centro e Extrema Direita.

Os partidos de Direita, centro direita e extrema direita (PMDB, PSDB, Republicanos, União Brasil, PSD, Republicanos, PRD, PP, PL e outros nanicos), lançaram juntos, cerca de12. 055 candidatos, mais que o dobro dos 5.569 municípios do país.

Vejam por partidos (PMDB, 1.926); (PSD, 1.751);  (PP, 1.501); (PL, 1499); (União Brasil, 1.292);  (Republicanos, 1.107);  (PSDB, 721); (PODEMOS, 506); (Avante, 390);  (PRD, 306); (Solidarieeade, 281); (Novo, 247); (Mobiliza,147); (Cidadania, 111); (Democrata Cristão, 105); (PV, 97); (Agir, 92); (PMB, 74); (PRTB, 72).

Estes dados são muito significativos, quando analisamos os 5.569 prefeitos eleitos, pois, se a direita lançou 12.055 candidatos, as chances de vitórias são dobradas.

Por Belarmino Mariano. Imagens das redes sociais.



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