Os Sonhos que eu Quero

Por: Joana Belarmino
Porque li um maravilhoso texto de João Batista de Brito, compartilho uma crônica antiga.
Eu não quero outros sonhos, senão aqueles que eu possa inventar a cada hora, pequenos sonhos que venham pousar na concha da minha mão, forjados de matéria tão fluida como o cheiro do dia, o gosto da brisa, a delicadeza de cada pequena onda quebrada na beira da praia.
Eu não quero outros sonhos, senão aqueles que eu possa equilibrar no dorso da pequena árvore curvada à frente da minha casa, sonhos que não ousem senão, ligeiros voos até o ninho dos bem-te-vis,  na orla da mata.
Não quero outros sonhos, senão os que eu possa urdir com palavras tão simples como as dessa crônica, curtas frases, enformando delicadas vontades,  como o desejo do café da tarde, a calma da varanda, o assaí na tigela, o escuro da biblioteca, o primeiro minuto do anoitecer, a antecippação do abraço, a força do círculo dos tambores, a lua cheia.
E quando for hora de dormir, quero que salte da cova do sono, feito preá do mato, o sonho de infância, de um dia claro, com meu pai estalando de riso, nós dois sentados na nossa caverna, tendo à nossa frente o seu chapéu, cheio de umbus maduros, e nos nossos corações, o calor do nosso afeto.
De novo eu lhe perguntarei de que é feita a terra e ele me dirá que a terra não passa de farelo de pedra.Rolando o caroço do umbu por entre os dentes,perguntarei então de que é feito o vento. O meu pai, fitando o teto de pedra, engrossará a voz para me contar o segredo de que o vento não passa de uma chuva seca.
O dia, o sonho, eu e o meu pai, a chuva lá fora e uma adulta que brota de dentro, com sua pergunta tisnada de saudade: - pai, a felicidade, de que é feita?
A fala do meu pai, resvalando para o anteparo da noite, para a beira da cova do sono: A felicidade,é um pedaço de terra do interior, que a gente nem sempre se lembra de visitar e de adubar.

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