Boulos, o Choro da Esquerda e a Derrota Parcial da Democracia no Brasil.

Por Belarmino Mariano.

Quando vemos o poder econômico impondo o poder político sem a escolha livre, vemos uma derrota da democracia sem igual, uma lamentação e a triste lógica do poder econômico!

Professor Guilherme Boulos (PSOL), merecia essa oportunidade para governar a Cidade de São Paulo, capital estadual e maior cidade da América do Sul, mas o povo paulista preferiu continuar no erro.

Sabemos o quanto essa prefeitura tem importância para o neoliberalismo mundial. Não apenas para o Brasil. A situação política no segundo turno revela os desdobramentos de lideranças políticas, mas em muitos casos, de grandes empresas, esquemas de empreiteiros e usurpadores das instituições públicas.

De acordo com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE, 27/10/2024), a coligação Caminho Seguro para São Paulo (PP, MDB, PL, PSD, Republicanos, Solidariedade, Podemos, Avante, PRD, Mobiliza, Agir e União Brasil), venceram com 59,35% dos votos válidos.

O candidato Guilherme Boulos, da coligação Amor por São Paulo (federação PSOL/Rede, federação Brasil da Esperança — Fé Brasil, composta por PT, PC do B, PV, e PDT), ficou com 40,65% dos votos válidos (TSE, 27/10/2024).

Dos mais de 15,5 milhões de votos da Capital paulista, quase  6,5 milhões de eleitores não foram votar, anularam ou votaram em branco. Ou seja, esse número é próximo dos 5,6 milhões de eleitores da cidade do Rio de Janeiro, segundo maior colégio eleitoral das capitais do país.

Esse é o resumo local de uma eleição predominante de direita em quase todo o país, ao exemplo do Rio de Janeiro, Porto Alegre, Belo Horizonte e Salvador, entre a maioria das grandes capitais e dos grandes centros urbanos, em que o Centrão canalizou esse jogo de alianças a Direita e Centro Direita, com pontuais alianças a centro esquerda.

No caso de São Paulo, o Ricardo Nunes, conseguiu maioria em todas as zonas eleitorais de São Paulo, com maioria absoluta nas grandes periferias urbanas, áreas que absorveram fortemente as fakes news contra o candidato Guilherme Boulos, muito atacado desde o primeiro turno, inclusive pelo Pablo Marçal (PRTB), em regiões comandadadas pelo narcotráfico, PCC grupos evangélicos fundamentalistas.

Nesse caso, a vantagem da centro direita paulistana, contou com todos os tipos de apoios, capazes de derrotar um candidato de esquerda mais uma vez. E não era qualquer candidatura, pois Boulos tem uma larga tradição, bem mais a esquerda, do que a centro esquerda mais moderada. 

Então, basta relembrar que a ideia da Direita e extrema direita era eliminar Boulos (50), já no primeiro turno, daí os fortes e sujos ataques contra a pessoa política de Boulos, muito bem arquitetadas por Pablo Marçal (PRTB), que chegou a ameçar o próprio candidato do Centrão.

Por medo de uma reviravolta política, o governador Tarcísio de Freitas, aliado de Ricardo Nunes (MDB), foi criminoso ao declarar que o PCC estava orientando as pessoas a votarem em Boulos, quando todos sabemos que o PCC tem vários contratos no atual governo Nunes/Tarcísio.

Os ataques sofridos por Boulos em toda essa eleição e em toda a sua vida política, se resume ao jogo sujo e o uso da máquina pública para criar vitórias, inclusive com a prática de crime eleitoral, com fakes com laudos falsos de usuário de drogas e ligações com o crime organizado. Parece que dizer que Boulos é Comunista nat estava fazendo mais efeito.

Como as eleições medem o poder econômico e como em algumas situações, o poder do dinheiro interfere gravemente, em especial, quando as eleições se afunilam e ficam apenas dois candidatos. Os resultados nem sempre refletem a opinião pública.

O jogo sujo, as fake news, as mentiras e fraudes eleitorais para manipular eleitores desinformados são certeiras e atingem os resultados de cheio. Não deu Boulos em São Paulo, mas ocorreram derrotas de candidatos de Bolsonaro em quase todos os lugares.

As derrotas do bolsonarismo neste segundo turno foram fragorosas, demonstrando desgaste e abandono ao inelegível. Mesmo assim, o PL conseguiu eleger vários prefeitos, em especial nos locais em que direita e extrema direita estiveram coligadas.

A derrota do Ministro Cloroquina de Bolsonaro, Queiroz (PL, 36%), para Cícero Lucena (PP, 64%) em João Pessoa, maior derrota bolsonarista foi reflexo de uma união da direita, esquerda e outros em defesa da democracia.

Em Fortaleza, quarta maior capital do Brasil, elegeu Evandro Leitão (PT). Essa foi a grande vitória da esquerda nestas eleições, pois derrotou André Fernandes (PL), o maior bolsonarista do Nordeste.

Essa eleição em Fortaleza, tem muito significado para a democracia, pois o jogo sujo e o ataque às mulheres e às esquerdas foi maior e nesse momento, Fortaleza é a capital da democracia e de laços profundos com a esquerda, pois derrotou um extremista de direita.

Em Fortaleza também tivemos a derrota política de Ciro Gomes, que declarou apoio ao bolsonarista André Fernandes (PL). Essa posição de Ciro implodiu o PDT no Ceará.
O Bolsonarismo saiu perdendo em quase todas as capitais do Brasil e nos grandes centros. Em muitos casos, com candidatos da direita vencendo a extrema direita e o peso disso é a força política do centrão. 

O PL foi o partido que levou mais candidatos para disputas em capitais do Brasil no segundo turno e das 9 capitais, perdeu em 7 e ganhou apenas em 2. No quadro geral, o PL disputou eleições em 16 municípios fora das capitais e perdeu em 9.

Esse segundo turno representou uma vitória da Direita, com o apoio da esquerda em várias capitais e grandes centros e, a grande derrota foi para a extrema direita, apesar da vitória de Ricardo Nunes (MDB) que teve o tímido apoio de Bolsonaro, tendo ficado "em cima do muro" no primeiro turno, o que rachou a extrema direita em São Paulo.

O PSD, MDB, União Brasil e outros partidos do Centrão levaram uma grande vantagem nestas eleições municipais, lembrando que estavam com o maior orçamento do fundo eleitoral e orçamento secreto da história do Brasil. 

Também existe outro fato, vários candidatos foram reeleitos, fruto de orçamentos secretos e grandes investimentos em obras do governo federal, independente de partidos e de políticos, que favoreceram os candidatos com mandatos em andamento.

O PTB, com a prisão do Bolsonarista Roberto Jefferson e o Patriotas, que era base do Bolsonaro, resolveram se juntar e fundar o Partido da Renovação Democrata (PRD, 25), se unificando em 2023, mas o novo partido foi um fracasso total nas eleições, o que também representa uma derrota do Bolsonarismo.

O PSDB parece que acabou? Com certeza, era o maior partido da direita das últimas décadas. Apesar de ter elegido alguns prefeitos no Rio Grande do Sul e em outros Estados, inclusive com apoio da esquerda, dezenas de líderes do PSDB migraram para o União Brasil e até mesmo para o PSD e PP. Sinal de que o histórico PSDB acabou em quase todo o país.

José Alckmin que era um dos grandes líderes do PSDB em São Paulo, migrou para o PSB e se tornou o Vice-presidente da República ao lado de Lula a partir de 2022, conseguiu ampliar as bases do PSB em escala nacional, pulando de 257 prefeituras para 312. Assim como o PT que tinha 184 e passou 252.

Não podemos esquecer que essas disputas levaram o bolsonarismo a várias derrotas em: Goiânia, Fortaleza, Curitiba, João Pessoa, Belo Horizonte, Manaus, Belém, Camaçari, Mauá, Niterói, Santos, Pelotas e em varias outras capitais e grandes centros.

O PL ganhou em quatro pequenas capitais: Aracajú, Maceió, Rio Branco e Cuiabá. 2 no primeiro e 2 no segundo turno. São capitais de pequenos redutos eleitorais, no Nordeste, com poder político de Arthur Lira, no Moto Grosso de influência do agronegócio e no Norte, influência dos garimpeiros ilegais, madeireiras e agropecuária.

Em São Paulo, apesar da reaproximação de Bolsonaro ao Ricardo Nunes, depois de eleito, ele demonstrou completo desconhecimento ou importância de Bolsonaro nesta vitória. Que foi muito mais atribuída a Tarcísio de Freitas (REP) e Kassab (PSD). Pelo jeito, o ex-presidente, ex-capitão e ex-elegível é "carta fora do baralho".

Os votos em são Paulo, contradizem a triste e desastrosa administração da capital paulista Um governo que massacra pobres, estimula violência policial nas periferias e governa para os grandes empresários. 

Ricardo Nunes (MDB) 59%, Boulos (PSOL) 40% dos votos válidos. Quando vemos os votos nulos, brancos e abstenções, São Paulo, que  firam 44%, se observa que as mensagens politicas de Boulos foram muito bem intercepitadas, e demonstra também, um grande desinteresse pela política eleitoral de quase  de 6,5 milhões de eleitores.

Na maior capital do Brasil, tivemos 13% de votos brancos e nulos e 31% de abstenção. Isso representou 44% das pessoas que vivem em São Paulo, que não votaram, anularam ou rejeitaram os dois candidatos. Ou seja, apenas 54% dos eleitores de fato votaram em Nunes ou Boulos.

As esquerdas em São Paulo, erraram mais uma vez, ou não conseguiram chegar até a periferia, quando grupos políticos como o PDT, não integraram a campanha política no segundo turno, com um candidato declaradamente de esquerda. Tábata Amaral (PDT) declarou voto em Boulos, mas não se envolveu na campanha. As esquerdas perderam suas bases na periferia, na atualidade controladas dos pastores corruptos e grupos criminosos.

Apesar de Boulos não ter sido eleito, todos sabemos que a grande máquina sempre funciona contra qualquer candidato de esquerda. Mesmo assi, ficou claro que uma nova liderança de esquerda foi revelada na política brasileira. Boulos se tornou uma nova referência de esquerda em escala nacional. 

O próprio Guilherme Boulos reconheceu que as esquerdas precisam olhar para suas bases, que estão nas periferias. Apesar de vitórias do PT em quatro grandes centros e em Fortaleza e da derrota do Bolsonaro e da extrema-direita em quase todas as cidades em disputas, a direita e o centrão (PSD, MDB, PP, UB) foram os grandes vitoriosos.

As disputas entre esquerdas e extrema direita não foram o fiel dessa balança política, o Centrão e o poder econômico, atrelados ao orçamento secreto fizeram a grande diferença nestas eleições. 

Apesar da derrota de candidatos da extrema direita, para candidatos da direita, com apoio dos partidos de esquerda, como ocorreu na França. No Brasil, a extrema direita conseguiu se infiltrar em grandes centros como São Paulo, com a vitória de Ricardo Nunes, com apoio de Tarcísio de Freitas, Kassab e grandes empresários paulistas.

Nesse segundo turno se repetiu um pouco do primeiro turno, com dezenas de prefeitos reeleitos e o Centrão fazendo maioria. Os partidos com mais vitórias no segundo turno: PSD 9, MDB 8, PL 7, podemos 6, UB 5, PP 5, PT 4, PSDB 3, PDT 2, Avante 1, Novo 1.

Se escolhermos apenas as capitais, ao final do segundo turno o quadro ficou assim: MDB 5, PSD 5, PL 4, UB 4, Podemos 2, PP 2, Avante 1, REP. 1, PSB 1 e PT 1. Esse rabo de foguete em que as esquerdas ficaram precisa ser avaliado com muita profundidade, pois poderá ser um caminho sem volta.

Esse lamentável resultado, apesar das derrotas da extrema direita, foi desastroso para a esquerda. O que significa um retrocesso político gigantesco. Ou seja, os fortes ataques da grande mídia aos partidos de esquerda como PT, PSOL, PCdoB, PSB e até do PDT, enfraqueceram esse campo político e a própria democracia brasileira. 

A grande mídia pró imperialismo e as redes sociais do ocidente minam os grupos de esquerda em todo o mundo, monitoram, constroem novas estrategias de poder e financiam o controle do Estado Brasileiro como um gigantesco negócio do mercado de capitais. 

O poder público no Brasil, movimenta muito capital, então impedir a chegada de grupos esquerda ao poder, garante aos neoliberais e até mesmo aos extremistas de direita os espaços de poder e controle do mundo.

No quadro geral do segundo turno foram muitas derrotas de Bolsonaro e do bolsonarismo, mas a eleição não representou uma vitória das esquerdas. Nem tão pouco da democracia, apesar de derrotas pontuais de candidatos de extrema direita, aos exemplos de Fortaleza, Belo Horizonte, Curitiba, Goiânia, Manaus, João Pessoa, além Niterói na Grande Rio de Janeiro.

Terminados os dois turnos das eleições municipais e comparando a dinâmica partidária das cinco últimas eleições, apesar de terem surgido novas  agremiações partidárias por fusão de velhas legendas e encerramento de atividades de alguns partidos, os dados apresentados são os seguintes:

Os dados da justiça eleitoral tabelados pelo poder 360*, refletem que a Direita ligada ao Centrão ampliou ainda mais seu capital político em número de prefeiturs. Em especial: PSD (891); MDB (864); PP (752); União Brasil (591); PL (517) e Republicanos (440).

Todos estes partidos fazem parte do Centrão e apesar de se unirem em vários municípios, contra candidatos de esquerda, nas disputas contra os candidatos da extrema direita em que estavam concorrendo, pregaram "o voto útil" e em todas as situações obtiveram apoio declarado da esquerda e o anti-bolsonarismo.

O PRD (antigo PTB e Patriotas, caiu de 440 prefeituras para 77, mesmo com a união. O PSDB que chegou a ter 806 prefeituras em 2016, caiu para 536 em 2020 e agora para 256, uma redução de 259 em 2024. 

De 2016 época do golpe contra a presidente Dilma e os violentos ataques a democracia, ao PT e partidos de esquerda, o PSDB foi o Partido de Direita que mais encolheu, saindo de 806 para 256 prefeituras, uma queda de 550 municípios, inclusive grandes capitais como São Paulo.

O PSB e o PT, dentre as esquerdas foram os que mais cresceram. O PT subiu de 184 para 252, com aumento de 68,  seguido pelo PSB, que saiu de 257 para 312, tendo crescido 55 novos prefeitos. Partidos menores como o Avante,  Podemos, tiveram pequenos crescimentos, enquanto o PSOL e Redes, perderam espaço no executivo, mas cresceram nas eleições para vereadores.

Nesse campo de centro esquerda, o PDT sofreu as maiores derrotas, caindo de 320 para 150, com a  redução de 160 prefeituras entre 2020 e 2024. Talvez pelo fracasso e dubialidades na liderança nacional de Ciro Gones, tendo afetado a confiança de suas bases políticas.

Claro que estas eleições também foram marcadas por grandes rachas na extrema direita e na própria direita, mas seus candidatos conseguiram maior êxito eleitoral, mesmo divididos, ao exemplo das orientações de Bolsonaro, contra candidatos do próprio PL que se coligaram com partidos de esquerda.

Sejamos objetivos, a grande mídia faz a linha editorial do mercado e  querem analisar uma derrota das esquerdas em todo o Brasil. Mas seria muito bom relembrar que alguns ex-ministros de Bolsonaro foram derrotados: Alexandre Ramagem  (PL, RJ), Gilson Machado (PL, Recife), Marcelo Queiroz (PL, João Pessoa).
Outro Bolsonarista derrotado foi o Governador de Minas  Romeu Zema e o Deputado Nikolas Ferreira, pois seu candidato Bruno Engler (PL, BH) foi derrotado em Belo Horizonte para Fuad Noman (PSD), com apoio da esquerda. Todos os candidatos apoiados por Nikolas Ferreira (PL) perderam a eleição, inclusive o Pablo Marçal.

Em uma análise fria e calculista, essa eleição ainda não reflete uma visão do eleitor quanto ao governo do presidente Lula, pois as bases desse pleito são bem anteriores e estão ancoradas no orçamento secreto e nas grandes mídias que continuam destruindo as imagens de qualquer candidato ou partido de esquerda.

Como sabemos, os partidos da esquerda brasileira (PT, PSB, PCdoB, PDT, Rede e PSOL), não tiveram muitas candidaturas, mesmo assim, cresceram um pouco mais. Depois de duas décadas de violento desgaste político.

Também não podemos analisar apenas os dados estatísticos ou os números frios. As campanhas da esquerda foram gigantes e levaram milhões as ruas, avenidas e ao envolvimento político. Mas isso não ganha mais eleições como antes.

Agora, o uso e impulsos pagos nas redes sociais, as fakes news e o grandes somas de dinheiro na compra de votos nas periferias pobres, fizeram a grande diferença para os resultados, justamente dos partidos com muitos recursos e apoios empresariais.

Resta saber se esses resultados, somados ao primeiro turno, serão suficientes para derrotar Lula em 2026? Pois nesse momento, vários dos partidos vitoriosos fazem parte da base de apoio do governo dos Presidentes Lula (PT) e Alckmin (PSB). 

A Direita, apesar de estar se preparando para lançar candidatura para presidente em 2026, os próprios candidatos a presidente, querem herdar os votos dos bolsonaristas, pois sabem da sua inelegibilidade e possível prisão Quem será o candidato da direita e dos grandes empresários em 2026? Tarcísio, Kassab, Caiado, Eduardo Leite, Ratinho ou Marçal?

Uma coisa será certa, se o velho Lula estiver preparado para uma nova disputa em 2026, muitos destes candidatos oportunistas vão preferir o Senado, a Câmara dos Deputados e os governos estaduais. Talvez até disputem um primeiro turno para efeito de coeficiente eleitoral e fundo partidário., pois sabem que para presidente o pernambucano é carne de pescoço.

Por Belarmino Mariano. Imagens das redes sociais.
Fonte: ICL Notícias, Brasil de Fato, 247, Poder360, Metrópole, G1. TSE.

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