GEOPOLÍTICA - QUEBRA DO COLONIALISMO MONETÁRIO


Imagem adaptada das redes sociais.

Por Belarmino Mariano 

Hoje vi um pequeno vídeo do presidente  do Quênia, William Ruto, no Parlamento da União Africana, questionando por quais motivos, os povos africanos comercializam internamente com moedas como dólar e euro? Ele afirma que cerca de 80% das transações comerciais dentro da África são feitas  em dólares ou em euros e isso dificulta ou atrapalha o livre comércio na Região. Então ele afirma que será necessário que os países e as pessoas façam seus comércios internos com as moedas locais.

Hoje vi o Presidente Lula, dizer nas barbas dos líderes europeus que chegou o momento de se discutir as desigualdades entre os países e de repensar esses acordos econômicos que sempre geram desvantagens para os países pobres. Não dar para discutir questões climáticas e ambientais, enquanto os países subdesenvolvidos vivem em extrema pobreza. 

Lula disse claramente e em bom som, no centro de Paris que os grandes problemas ambientais desse século foram causados pela revolução industrial dos países europeus e que eles precisam ser responsabilizados pelos grandes problemas ambientais e climáticos. Os alertas de Lula foram um aviso para as grandes potências, de que precisam mudar as suas políticas econômicas e relações desiguais que eles provocaram, pois chega de discursos vazios e do não cumprimento das diversas agendas que foram definidas em diferentes encontros internacionais.

No mês de maio, o presidente Lula do Brasil, em visita a China, declarou que havia chegado a hora de relações comerciais com as moedas dos próprios países, pois manter o comércio bilateral com o dólar, sempre gerava perdas significativas para os países.  Era o momento de fazer comércio com suas próprias moedas e que os acordos com a China passariam a ser feitas em Yan e não mais em dólar. Isso gerou um frenesie no mercado internacional e fortes ataques da mídia imperialista e neoliberal. Mas o recado foi dado, pois o mundo precisava se tornar multilateral.

Ao final de maio Lula foi a Europa e entre Portugal e Espanha, voltou a questionar as relações desiguais entre países considerados ricos, em relações desiguais com os ditos pobres ou subdesenvolvidos, questionou a lógica de controle da ONU por apenas 6 superpotências, enquanto os demais países ficam a margem das decisões sobre guerra e paz. Lula apresentou bases mais racionais para um acordo entre a União Europeia e o Mercosul.

Estamos diante de uma experiência política muito nova, em várias partes do mundo, estamos questionando o colonialismo monetário internacional e tudo isso tem um peso significativo na história do mundo. Primeiro pelo fato de que, o mundo passou séculos controlado por grandes potências europeias, que estruturam uma ordem geopolítica mundial, em que as metrópoles europeias, controlavam territórios em diferentes continentes e tratavam estes como seus, verdadeiras reservas de exploração quase que inesgotáveis.

Desde o pré-capitalismo mercantil e da busca de rotas comerciais para as índias orientais que os europeus estabeleceram grandes navegações através do oceano atlântico, chegando aos continentes americanos, conquistando o litoral africano e chegando até o oceano índico, para daí atingir o Oriente Médio e a Índia. Daí para o Pacífico e para a Oceania e Sudeste Asiático.

Esse processo durou uns dois séculos (XV a XVII), tempo suficiente para o mundo se tornar colônia da Europa e com isso, essa região do mundo conseguiu concentrar as bases econômicas para consolidar o capitalismo imperialista. Do trabalho escravo as relações assalariadas, se desenvolveu uma espécie de Divisão Internacional do Trabalho (DIT), onde as colônias produziam matérias primas e a Europa manufaturava, até que os avanços e lucros desse modelo, ampliaram a capacidade técnica que originou e desenvolveu a maquinofatura.

Estes foram os pressupostos básicos para que o mundo se tornasse um grande celeiro de riquezas que eram concentradas na Europa, enquanto a pobreza absoluta se concentrava nos territórios coloniais explorados. Processos revoltosos e lutas por independência começaram a ocorrer em diferentes partes do mundo e, mesmo dentro da Europa, iluministas começaram a questionar esse modelo de exploração e de concentração de riquezas, inclusive a ideia de regimes monárquicos absolutistas, que pilhavam as riquezas coloniais enquanto muitos europeus pobres, estavam as margens da realiza e da nobreza, inclusive os burgueses oriundos das rotas mercantilistas.

O colonialismo se estruturava em três bases: O controle militar e de opressão aos que questionassem o poder; o controle cultural ideológico e religioso preso ao cristianismo católico em colônias portuguesas, espanholas e francesas e o controle protestante anglicano nas colônias britânicas; o controle econômico com todas as riquezas e impostos transportados para as metrópoles. 

O imperialismo colonialista também se estruturava na ideia de superioridade e supremacia de raças do homem branco europeu "civilizado", sobre os povos selvagens, nativos e /ou bárbaros.  A ideologia escravocrata e supremacista branca, dominou todos os cenários de poder entre os agentes europeus e os povos colonizados (línguas, religião, regras sociais, costumes, regras jurídicas), eram impostas aos colonos em seus próprios territórios. 

Isso gerou, genocídio, imposição econômica, apropriação territorial, massacres, violência  sexual, perseguição religiosa, forte degradação ambiental e muitos outros males, como a completa extinção de milhares de etnias e culturas nativas. Povos inteiros foram dizimados, tanto por doenças, quanto por guerras, com morte sumária dos povos que lutaram e resistiram aos colonizadores europeus. Os que sobreviveram foram aculturados (Figura 2):

Figura 2 - Rotas coloniais e dominação europeia do mundo

Nesse processo histórico, houve resistência e em alguns territórios a luta de independência colonial deu resultados positivos e alguns territórios conseguiram a libertação territorial de suas áreas. Mas esse processo só foi possível devido ao próprio processo de disputas internas entre as grandes potências, que se entranharam "guerras intestinais" entre os séculos XVII, XVIII e XIX. 

As principais potências europeias como Portugal, Espanha e Inglaterra, que foram as primeiras nações a fazer grandes conquistas territoriais, passaram a rivalizar as suas conquistas, como outros países com: França, Holanda, Bélgica, Alemanha e Itália, entre outros. Estes conflitos estiveram diretamente voltados para as disputas pelas partilhas coloniais, em especial da África, Ásia e Oceania. As américas já estavam quase que completamente dominadas por Portugal, Espanha, Reino Unido e até o Império Czarista Russo, já tinha estabelecido colônia do Alaska canadense (Figura 3):

Figura 3 - Mapa de partilha da África, Ásia e Oceania.

Alguns autores chegam a chamar essa fase de neocolonialismo, pois entre os séculos XVIII e XIX, contavam com novas investidas e diferentes interesses, diante de avanços tecnológicos e o desenvolvimento da Revolução Industrial, que exigia novas relações e novos poderes para a garantia de mercados aos produtos da crescente industrialização, em especial no Reio Unindo, que passou a hegemonizar a geopolítica internacional, submetendo inclusive alguns países europeus, enquanto perdia colônias como a independência dos Estados Unidos da América do Norte (USA), conquistava territórios e mercados na África, Oriente Médio e Oceania.
Os Estados Unidos que conquistaram sua independência (1783), com ajuda da França e Espanha, com base em teses iluministas e liberais, seguidas de fortes críticas ao colonialismo europeu das Américas, África e demais continentes, gerou uma nova perspectiva de independência em outras partes do mundo. 
Não durou muito e os Norte-Americanos, iniciaram as suas próprias geoestratégias e geopolíticas expansionistas e neocolonialista dos territórios vizinhos e das terras indígenas ao leste do continente, adentrando em áreas francesas e espanholas.

De trezes pequenas colônias do Atlântico, em menos de um século, os USA já haviam triplicado o tamanho dos seus territórios, utilizando cinco estratégias: diplomacia, compra, anexação, extermínio dos povos nativos e guerras, principalmente contra os espanhóis, mexicanos e nações indígenas do Norte. As terras americanas se estenderam do Atlântico ao Pacifico, das montanhas rochosas aos desertos mexicanos.

Desse neocolonialismo dos Estados Unidos, foram estabelecidas as noções gerais da ideologia supremacista branca, no que ficou definido como "doutrina manifesto", ideia politico religiosa de que era vontade de Deus que os Norte-americanos governassem todas as Américas e por que não, todo o mundo. Esse modelo ainda é máxima da geopolítica do imperialismo dos Estados Unidos, sempre se colocando como superiores e impositores de suas políticas ideológicas, econômicas e culturais.

Muitos países foram conquistando suas independências, especialmente nas áreas espanholas e portuguesas que perderam força política internas, com as disputas dentro da própria Europa, com as insatisfações francesas, alemãs e italianas, que estiveram de fora das partilhas coloniais.

O século XIX foi marcado por grandes guerras e até certo ponto, envolveram diretamente o Reino Unido, França, Prússia (Alemanha), Império Austro-húngaro, Rússia e outros. Na brecha destas disputas, muitas Colônias das Américas foram se tornando independentes politicamente,  mais totalmente presas aos processos econômicos que eram controlados pelas elites agrárias  e que continuaram realizando os negócios mercantis internacionais, também controlando as novas relações políticas, com o estabelecimento das repúblicas oligarcas e império monárquico no Brasil.

Os povos nativos, escravizados e alforriados, viraram trabalhadores rurais e urbanos a serviço das elites agrárias e mão-de-obra barata dos produtos de exportação e ciclos econômicos iniciados pelos colonizadores. A independência política não alterou a lógica comercial mercantil. As elites brancas, continuaram no controle dos territórios e dos negócios em todos os territórios "independentes".
 
 Na África, Oriente Médio, Ásia e Oceania, as colônias continuavam sob a dependência das potencias europeias, que disputavam entre si esse controle, observando que o Reino Unido, levava maior vantagem política, econômica e militar, reforçadas da revolução tecnológica de suas industrias. Estas disputas levaram a Europa e o mundo a Primeira Guerra Mundial (1ªGM). Uma guerra das potências imperialistas europeias, pelo controle do mundo. É o capitalismo na pior de sua selvageria, a guerra e a pilhagem das riquezas dos povos. Foram quatro anos de massacres e ao final, nada havia sido efetivamente conquistado. 
Países inteiros foram destruídos, impérios como o Austro-húngaro e o russo foram destruídos e se fragmentaram em pequenas nações da Europa Oriental. 
O Império Czarista da Rússia entrou em colapso, o governo retirou suas tropas da 1ªGM, mas foi pior, pois milhares de soldados russos se uniram aos operários, camponeses e burgueses para derrubar o império. De 1971 até 1921, os russos viveram uma violenta guerra civil, que ao final, gerou a primeira experiência de socialismo real da história humana.

Essa parte do mundo foi paulatinamente sendo isolada do mundo dito capitalista e os Estados Unidos, que não entraram diretamente na 1ªGM, haviam lucrado muito com a venda de produtos militares aos aliados em Guerra, se tornando uma nova potência capitalista, com excelente base industrial, passando a fornecer para a Europa destruída, todos os tipos de produtos e reconstruções.

Ou seja, a Guerra mundial foi um excelente negócio para os Norte-Americanos e isso passou a ser uma estratégia de sua economia internacional. O país criou o maior seguimento industrial militar do mundo contemporâneo. Sua influência geoeconômica já estava em todos os continentes e, o enfraquecimento das potencias imperialistas europeias foram preenchidas pelo capitalismo Norte-americano.

O colonialismo monetário que era controlado pelo Reino Unido e pela Libra Esterlina, foi cedendo espaço ao dólar e aos industriais dos Estados Unidos. Estes começaram a expandir sua industrialização, com a instalação de multinacionais e pelo controle de capital, com investimento em setores estratégicos de empresas de energia, transporte, siderurgia, petroquímica e muitas outras. As bolsas de valores, as rotas de comercio internacional que durante a 1ªGM, passaram a ser controladas por empresas americanas, deram uma nova dinâmica a velha ordem internacional. Foi mais ou menos assim que se estruturou a mais nova potencia capitalista e imperialista do século XX. 

O capitalismo europeu e o imperialismo em crise, dentro do velho continente, demorou mais de uma década para se reestabelecer, em meio a grandes disputas nacionalistas internas e o estabelecimento de novas culturas políticas extremistas e conservadoras, entre o final da primeira guerra mundial e revolução russa, se estabeleceram ideologias fascistas na Espanha, Itália, França e Alemanha. Na Alemanha o fascismo se transformou em nazismo, mas com os mesmos princípios extremistas, xenofóbicos e busca de uma grande líder nacionalista, capaz de reestabelecer os valores do grande império dos seus antepassados. 

Ideologicamente os fascistas elegeram inimigos comuns: O socialismo e os judeus foram se transformando em grandes culpados pelas desgraças do mundo pós-guerra. O retorno do supremacismo da raça pura, o amor exagerado a pátria em frangalhos e a xenofobia dos inimigos da 1ªGM, alimentaram ainda mais, aos líderes que ascendiam ao poder político dos seus países em crise. Crise que se aprofundou ainda mais, ao final da década de 1920 e inicio de 1930, com a quebra da bolsa de valores de Nova York e um novo colapso econômico do sistema capitalista internacional.

Essa crise deu ainda mais força as ideologias fascistas e no mundo todo, grupos nacionalistas e de extrema direita criaram agremiações partidárias e passaram a defender as teorias e valores extremistas do fascismo. Da quebra da Bolsa de Valores de Nova York, a ascensão do fascismo e nazismo ao poder, em países como Itália e Alemanha, reacenderam o pavio de uma nova guerra territorial e expansionista. 

Os mesmos inimigos da 1ªGM eram ameaçados e provocados para novos confrontos. Alemanha e Itália se uniram em nítidos acordos, liderados por  Benedito Mussolini e Adolf Hitler. Nesse meio tempo, conquistaram uma aliança no extremo Oriente com o imperador japonês Hirohito I, que já tocava o terror em territórios coreanos, chineses e da Oceania, em especial nas áreas que eram colonialmente controladas pelas potencias europeias como Reino Unido e França.

Estas foram as bases da Segunda Guerra Mundial (2ªGM), que estremeceram as bases do mundo a partir de 1939, quando Hitler e Mussolini começaram a atacar importantes territórios da Europa Oriental, França e Reino Unido em diferentes regiões. Incialmente, os combates se concentram na Europa, mas rapidamente, tínhamos as colônias e ex-colônias envoltas com a 2ªGM. 

Era uma guerra totalmente imperialista e capitalista, mas os discursos ideológicos das ideias de nacionalismo, patriotismo e inimigos comuns, arrastou as classes proletárias, mesmo que os líderes socialistas alertassem que essa não era uma guerra proletária contra o capitalismo, o discurso nacionalista e patriótico, empurrou milhões de pessoas ao conflito, que rapidamente se tornou mundial, mesmo que o cenário geopolítico tenha sido inicialmente dentro da Europa.

A Rússia, que havia se tornado em uma União de Repúblicas Socialistas Soviéticas como vários países aliados, inicialmente não entraram na guerra que, já estava entrando no terceiro ano de conflitos, mas as tropas nazistas e fascistas se declaravam completamente inimigas dos socialistas, judeus e de outras nacionalidades como franceses, ingleses e qualquer um que se declarasse aliado dos franco britânicos. Os Estados Unidos, do outro lado do mundo, eram fornecedores diretos das tropas inglesas e francesas, mais até 1942, ainda não mobilizado suas tropas para a guerra.

Apesar de em 1939, Hitler e Stalin terem assinado um acordo de não agressão. A partir de 1941, como Hitler e Mussolini se sentiram fortes e com grandes conquistas territoriais dos seus inimigos, resolveram investir diretamente contra os territórios soviéticos. Os principais avanços nazistas se deram sobre os países bálticos, adentrando em antigas áreas eslavas como Bielo-Rússia e Ucrânia e, em julho de 1941 os alemãs mobilizaram grande contingente militar para as fronteiras da Rússia e deram inicio as batalha contra a URSS. A propaganda alemã divulgava que suas tropas derrotavam importantes bases do exercito soviético e conquistavam importantes territórios russos. Eram questões de meses para a dominação nazista, mas aos poucos, os soviéticos foram cercando os batalhões nazistas, que tiveram que ceder as áreas conquistadas e recuar suas tropas. 

Em 1941, com uma ataque japonês ao Havaí (Pearl Harbor), levou os USA a lançar tropas contra o Japão. Os Norte-Americanos foram forçados a mobilizar suas forças militares de Marinha e Aeronáutica, obrigando os japoneses a defenderem os territórios conquistados na Oceania e a defenderem suas posições em dezenas de ilhas já conquistas.

Na Europa Oriental, a medida em que os soviéticos obrigavam as tropas nazistas a se retirarem as áreas conquistadas, os russos iam convertendo esses territórios em governos provisórios pós-soviéticos, ampliando suas forças militares como novos aliados e despertando preocupação de potências como os Estados Unidos que até aquele momento, só lucrava com a 2ªGM. 

Os soviéticos, que se fortaleciam ao derrotarem as tropas nazistas e fascistas dentro da Europa Oriental, contribuíram para que França e Reino Unido, reconquistassem áreas perdidas e ganhassem tempo para se reorganizar nos campos de batalha. Esse foi o time que os Estados Unidos esperavam para mover tropas para a Europa, arrastando consigo, alguns países das Américas como o Brasil. 

A 2ªGM mundial teve um desfecho inesperado, pois os alemãs, italianos e japoneses, começaram a perder espaço e força, em uma guerra em que lideravam as conquistas territoriais com larga vantagem até 1942, mas em dois anos perderam força e estagnaram suas vantagens. Daí para frente, com a entrada da URSS e dos USA, como aliados diretos dos franceses e britânicos, a correlação de forças mudou e em abril de 1945, o exercito vermelho cercou Berlim, em uma batalha que mobilizou milhões de soldados. Foi o confronto com o maior numero de mortos dos dois lados, até que Hitler se suicidou e os poucos alemãs que ainda lutavam, começaram a se reder e confirmar a derrota definitiva. 

A 2ªGM foi o marco de sucessivas crises do imperialismo capitalista, mas a derrota do fascismo e do nazismo, deram um novo fôlego a potencias como Reino Unido, França e aliados. Mas os Estados Unidos que haviam ganhado muitos dólares com as duas grandes guerras mundiais, se tornaram a referência capitalista mundial, em especial, quando lançou dos bombas atômicas contra o Japão, iniciando um novo capitulo no cenário geopolítico internacional.

Nesse momento, o dólar já é a moeda mais forte do mundo e os cenários de reconstrução dos destroços da guerra, se transformam em um excelente negócio para as grandes empresas americanas. Por outro lado, os territórios libertados pelos soviéticos, foram se transformando em aliados do bloco socialista, o que era um grande incomodo para o imperialismo capitalista, mas não tinham o que fazer, pois novas tensões aquele momento, poderiam gerar novas situações conflitantes. 

Os Estados Unidos aproveitaram os estragos feitos contra o Japão e ocuparam o país, instalando um monstrengo político, com a manutenção da família imperial e da realiza viva, mais sem muitos poderes e implantaram um parlamentarismo com um congresso e a figura de um primeiro ministro, que passou a atender as exigências de guerra dos americanos. Enquanto isso, foram tentando se instalar em territórios que estavam sob o domínio japonês, como Coreia, Vietnã, Filipinas, Indonésia, Laos, Camboja, entre outros. 

Mas, o que os Estados Unidos não queriam aconteceu, os chineses que lutaram bravamente contra os japoneses, ao termino da Guerra, iniciaram um movimente de independência do julgo britânico e uma guerra civil contra as elites dominantes que eram aliadas do ocidente. A Revolução  Socialista na China, implantou uma nova lógica política no Extremo Oriente, obrigando os Estados Unidos a redobrarem suas forças militares e pretensões expansionistas na região. 
Na Coreia as tropas americanas encontraram forte resistência do antigo imperador, vindas do Norte e com apoio soviético e chinês e no Vietnã tiveram a mesma resistência. 

Na Coreia, os Estados Unidos conseguiram abocanhar a parte Sul, instalando um país pró americano, mas no Vietnã, apesar de ter tentado a mesma estratégia, não conseguiram, tendo que passar dez anos em uma Guerra que passou para a história como a pior investida geopolítica dos Estados Unidos, contra um pequeno e frágil país que enfrentou a maior potência capitalista, imperialista e militar do mundo pós 2ªGM. 

Para a Europa e seus aliados, os Norte-Americanos ofereceram grandes negócios, como a Criação de um Fundo Monetário Internacional (FMI) e a instalação de um Banco Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD). Em trocas, os países assinaram um tratado de exclusividade nas relações internacionais, com o dólar como a única moeda internacional em paridade com o ouro, para a conversão do comercio internacional. A dolarização da economia capitalista mundial, deus aos Estados Unidos e suas gigantescas empresas, o controle monetário internacional.

A URSS não reconheceu esse acordo e as bases para a "guerra fria" foram lançadas, também em escala econômica, pois o país que não seguissem esse acordo, não deveria entrar no comércio internacional. Para evitar que novos territórios saíssem dessa camisa de forças da dolarização, uma forte propaganda ideológica contra o Socialismo e/ou Comunismo foi lançada em todos os países e qualquer "ameaça comunista" em algum país era motivo para a instalação de uma Ditadura Militar. 

Estas são as novas bases para o que chamamos de neocolonialismo monetário. A dolarização do comercio internacional, o endividamento dos países por empréstimos feitos pelo o FMI e BIRD; a expansão de empresas e marcas americanas para os países com ditaduras militares pró imperialismo americano fortaleceram ainda mais a dependência dos países, inclusive os europeus. Agora, existiam quatro grandes dependências aos Estados Unidos: Econômica, Financeira, Tecnológica e Militar. 

Países que flertassem com a URSS e a China Socialista, eram punidos com embargos econômicos, corte de empréstimos e todos os tipos de chantagens ideológicas, econômicas, culturais e políticas. A língua, a cultura cinematográfica,  a religião anglicana (protestante) e o controle das elites nacionais, passaram a alimentar a ideia do sonho americano, pautado por uma crescente sociedade de consumo e acelerado processo de enriquecimento, geram a dominação e o controle do mundo. A revista Superinteressante fez uma artigos sobre golpes e ditaduras na América Latina (Figura 4):

Figura 04 - Golpes e Ditaduras na América Latina, desde 1953.


Entre as décadas de 1950 até 1990, dezenas de países estiveram sob regimes militares e direta influência geopolítica e geoeconômica dos Estados Unidos. Ao longo destes 40 anos, se tornaram países endividados  e presos a ideologia neocolonialista do imperialismo Norte-Americanos. 

Empresas multinacionais, controle dos diferentes setores da economia destes países e completa dependência do dólar em suas transações, deram aos países a completa influência dos USA em todos os setores da vida econômica, social, politica e cultural pró Norte-Americanos. 

A dependência economia passa pelas empresas e seus investimentos no país. A dependência financeira, se estabelece pelo endividamento externo e interno, tendo que seguir todas as regras do FMI em suas políticas econômicas; dependência tecnológica, submete os países as tecnologias e aos produtos tecnológicos de empresas dos EUA. A ideologia e o controle da lógica da sociedade de consumo americana, que leva as elites, classe média e até mesmo as pessoas pobres ao sonho de acesso as riquezas e maravilhas dos Estados Unidos.

Os países europeus por sua vez, também continuam estabelecendo o controle sobre suas ex-colônias, dentro da África, Oriente Médio, Ásia e Oceania, dividindo com os Estados Unidos a hegemonia ou o controle político, econômico, social e cultural. Através da língua e religiões implantadas, através da acordos comerciais com desvantagens para as ex-colônias e as limitações impostas, que sempre deixam os países dependentes e atrasados em vários setores da vida e das pessoas, diante de suas posições sociais e de classes. Enquanto a pobreza e subdesenvolvimento atinge os mais pobres, as elites dos países pobres vivem as mil maravilhas do mundo e da cultura dos seus colonizadores, em uma cumplicidade vergonhosa.

Mas, segundo Caetano, "alguma coisa estar fora, fora da nova ordem mundial". Uma delas foi a grande ascensão do capitalismo chinês, com forte presença de empresas estatais e empresas privadas, acessando o mundo capitalista, através do processo de globalização e de neoliberalismo, que oportunizou os chineses a investir na compra de empresas estatais em diferentes países, assim como vender produtos bem mais baratos do que os dos seus concorrentes, além de produzir grandes avanços científicos e tecnológicos em todas as áreas da economia.

Mesmo assim, as disputas geopolíticas e de controle do mundo, ainda geram as mesmas tensões da 2ªGM e da Guerra Fria do mundo bipolar. Mesmo que a URSS não mais exista. Os conflitos na Europa Oriental e as ameaças diretas da OTAN aos russos, acendeu um sinal de alerta para o mundo. O conflito entre russos e ucranianos gerou grandes tensões internacionais e as velhas estratégias de punição econômica contra os russos e chineses, não fez o mesmo efeito que faria em um país de forte dependência do dólar. 

A China e a Rússia confrontaram diretamente o dólar e até certo ponto o Euro, no cenário do comercio internacional e a ideia de criar uma nova moeda a partir do BRICS (Brasil, Rússia,  Índia, China e África do Sul), além de dezenas de países interessados em entrar nesse bloco geoeconômico, vem colocando em cheque as relações comerciais em dólar ou em Euro. 

Com o conflito Ucrânia X Rússia X OTAN, as declarações de embargo econômico contra os russos, os obrigou a também pressionar os países dependentes de setores econômicos russos, como petróleo, gás e outros minérios a terem que comprar esses produtos em rubros que é a moeda russa.

Os chineses para se precaverem as artimanhas americanas e europeias, passou a atrair vários países a negociarem diretamente com o yan, que é a moeda chinesa. A crise política, geopolítica e econômica internamente nos Estados Unidos corroboram para uma desconfiança internacional dos negócios em dólar.  Não existe uma certeza política de uma mundo, tensionado por conflitos geopolíticos e geoeconômicos, mas podemos estar vivendo uma ruptura do clássico colonialismo monetário internacional.


Algumas referencias gerais:

Artigos do autor relacionados:














Artigos e referencias gerais

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